Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume das vendas do varejo pernambucano desacelerou, após um bom crescimento no mês anterior. A taxa mostrou variação modesta de 0,2%, no indicador mês, mês atual em relação ao mês anterior, enquanto que em fevereiro de 2019 o crescimento foi de 2,5%. É importante destacar que a alta no segundo mês do ano tem reflexos da recuperação da demanda após um mês relativamente fraco de vendas em janeiro, além da preparação de parte dos segmentos para a festividade do carnaval em março.
Dessa vez, o resultado pernambucano ficou bem próximo ao nacional, que cresceu 0,3%, não sinalizando nenhuma ação positiva ou negativa que tenha impactado as vendas no Estado de maneira mais forte do que a média. Apesar do movimento próximo ao nacional, o valor próximo à zero no volume do varejo sinaliza mais uma vez um cenário mais conservador da população, já que o período carnavalesco pernambucano é um dos mais fortes do país na atração de turistas e na elevação do consumo da própria população nativa, refletindo assim uma estabilidade no nível de compras da população mesmo em uma época que tradicionalmente se existe um incentivo de maiores gastos.
É importante destacar que o mercado de trabalho, um dos principais motores do consumo, ainda se encontra em situação de instabilidade, com o Estado apresentando uma das mais altas taxas de desemprego do país, além de elevado saldo negativo de empregos formais, colocando grande parcela da população em situação difícil, seja com orçamento restrito, devido à falta de empregos formais, com um renda mais baixa porque se encontra na informalidade ou gerenciando negócios por conta própria criados pela necessidade de se ter uma renda mais rápida.
Já o Varejo Ampliado pernambucano, setor que agrega todos os índices do Varejo mais as atividades de “Veículos, motocicletas, partes e peças” e “Material de construção”, conseguiu resistir ao movimento de menor consumo da população no Estado. As vendas, no indicador mês, subiram 1,1% em Pernambuco, se igualando ao crescimento brasileiro no mês de março. O acumulado ao ano se encontra bem abaixo do nacional, assim como o acumulado em 12 meses, trazendo uma importante sinalização para o setor: o setor de comércio, na maioria dos Estados, vem apresentando recuperação em ritmo superior ao do pernambucano. Na outra ponta e com movimento destoante dos demais indicadores, o comparativo mensal apresentou recuo de -6,3%, indicando que apesar do bom momento do setor de veículos o desempenho das vendas foi inferior ao mesmo período de 2018. É importante destacar que o volume de vendas do setor de veículos vem sendo beneficiado pelo maior acesso ao crédito e à presença do polo automotivo em Goiana.
No indicador mensal, mês atual em relação ao mesmo mês do ano anterior, o varejo pernambucano voltou a mostrar queda acentuada, recuando -6,6%. O número negativo é importante e traz a relevante informação de que existe um movimento de desaceleração em curso, iniciado em março de 2018, podendo apresentar piora nos próximos meses, atingindo até mesmo o desempenho das vendas do Dia das Mães, que ainda é a segunda data mais importante em volume de vendas para o varejo. É importante frisar que a percepção dos agentes em relação à melhora econômica vem ficando mais rápida, no mesmo período do ano anterior a expectativa de melhora na economia começou tão positiva quanto em 2019, porém custou mais a cair. Este ano, a confiança recuou de maneira bem mais rápida, impactando o comércio em maior proporção.
O segmento que mais influenciou a queda no comparativo mensal foi o de “Livros, jornais, revista e papelaria”, com queda de -50,4%, o setor vem se aprofundando em uma crise, porém não mais por falta de consumo ligado às condições financeiras da população, mas por uma mudança no hábito das pessoas, que, atualmente, se inclinam a consumir mais produtos digitais, jogando assim o setor em um momento de necessidade de inovação. Seguido dos setores de “Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação” (-17,2%), com o câmbio ainda mantendo-se desvalorizado, os equipamentos, que são em sua maioria importados ou possuem grande parte dos componentes trazidos de outros países, continuam com preços mais elevados segurando as vendas, “Tecidos, vestuários e calçados” e “Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo”, refletindo o comportamento mais conservador da população que voltou a segurar consumo mesmo em uma período de festa. Na outra ponta, apenas o segmento de “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos” ficou positivo, crescendo 14,2% ante o mesmo período de 2018.
Apesar da desaceleração, a atual conjuntura econômica do estado sinaliza um cenário bem mais positivo no segundo semestre de 2019. Isto porque grandes obras ligadas à construção civil, com força para gerar milhares de empregos diretos e indiretos, trarão um aumento na massa salarial e consequemente no nível de consumo da população.
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