Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
Conforme esperado, Pernambuco apresentou elevação no percentual de endividados em maio de 2019. O movimento de alta dos endividados, iniciado em agosto de 2018, com a comemoração do Dia dos Pais, teve a sequência quebrada em abril de 2019, mas ainda resiste voltando a se elevar no quinto mês do ano. O resultado está refletindo a elevação do consumo devido à comemoração do Dia das Mães, segunda data mais importante para o comércio e que vem tradicionalmente com um número elevado de pessoas comemorando e em consequência disso aumenta-se o percentual de endividados. A taxa da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) pernambucano saiu de 69,6% para 70,5%. É importante destacar que a proporção de famílias que informaram ter algum tipo de dívida é bem maior do que o verificado no mesmo período de 2018 (62,5%).
Lembrando também que os produtos ligados à comemoração do Dia das Mães trazem uma maior possibilidade de endividamento, visto que possuem um ticket médio elevado, como os eletrodomésticos, eletrônicos, calçados, vestuários, perfumaria e cosméticos, além das idas a bares e restaurantes. Pesquisa de Sondagem de Opinião realizada pelo Instituto Fecomércio em 2019 já apontava a possibilidade de maior endividamento, pois o resultado mostrou uma elevação na intenção do consumo e no gasto médio dos presentes (R$ 220,00), além de uma maior preferência por pagamento no cartão de crédito.
Em números, o percentual de 70,5% de maio equivale a 359.925 famílias endividadas, acréscimo de 4.754 e 42.979 mil lares em um mês e um ano, respectivamente. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 29,3%, alta em relação a abril e maio de 2018, que registraram percentuais de 29,3% e 27,9%, respectivamente. Estas famílias mostram maior dificuldade no pagamento de suas dívidas, devido ao orçamento mais apertado, o que impossibilita honrar todos os pagamentos do mês. Atualmente, no Estado, 149.747 famílias estão com alguma conta em atraso, acréscimo mensal de 14.804 e anual de 8.095 lares. A taxa é a maior desde fevereiro de 2018, quando o percentual chegou a 30,6%, e torna-se preocupante, pois revela que algumas famílias que já estavam com orçamento apertado continuam comprando.
Por fim, a parcela da população com a situação mais crítica, que são aquelas que informam não ter mais condições de pagar as suas dívidas, foi a única a apresentar melhor situação, com percentual de 12,3%, ante 12,6% do mês anterior, o que corresponde a 62.759 mil famílias inadimplentes. Vale destacar que esta parcela da população conseguiu ter uma melhora anual significativa, com 4.736 famílias deixando a grave condição de não conseguir honrar com os débitos.
Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado continua sendo o cartão de crédito, atingindo 93,3%, seguido pelo endividamento com carnês, que representa 21,1%. A maioria das famílias endividadas informam também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda, o que ainda é um ponto a ser melhorado.
Existe um movimento de recuperação de consumo em curso, comprovado pela elevação do volume de vendas em datas especiais, como Carnaval, Páscoa e Dia das Mães, e está sendo puxado principalmente pelo maior acesso ao crédito, permitindo assim que famílias ainda com restrição orçamentária volte às compras e reaqueça o varejo. É importante frisar que variáveis importantes que poderiam contribuir com a melhora no poder de compra da população ainda não responderam ou se deterioraram. É o caso da inflação, que até maio de 2019 já acumula índice bem acima do mesmo período de 2018, consumindo parte do poder de compra, e do mercado de trabalho, que também ainda se encontra com taxa elevada de desocupação e cria entraves para uma maior velocidade do retorno da confiança das famílias. Desta forma, cria-se um ambiente perigoso, onde o crédito mais barato e acessível propicia um maior nível de consumo e do outro lado a inflação e o desemprego comprometem a capacidade de pagamento, pressionando a taxa de endividados.
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