Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) pernambucano voltou a mostrar movimento inverso ao do nacional, com percentual de endividados em junho (69,6%) caindo em relação a maio (70,5%). A queda não era esperada, visto que os meses de maio e junho, tradicionalmente, elevam o nível de consumo das famílias com as comemorações do Dia das Mães, Namorados e Festejos Juninos.
É importante destacar que um percentual menor de lares endividados deve estar sendo puxado pela conjuntura mais difícil. De um lado, as dificuldades de geração de renda e da manutenção das despesas correntes restringem os orçamentos e impedem um maior nível de consumo; do outro, o ambiente futuro mais incerto e as expectativas de uma economia em desaceleração faz com que as pessoas que ainda possuem renda e uma saúde financeira adequada também reduzam as compras, evitem compras parceladas e, principalmente, a aquisição de bens duráveis, isto porque estes itens são geralmente mais caros e demandam uso do crédito.
Vale frisar também que a taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres voltadas às pessoas físicas, apesar de recuo entre abril e maio, ainda se mantém em valores mais elevados que no segundo trimestre de 2018, encarecendo o custo do crédito e criando assim maior facilidade para a alta do endividamento.
O resultado reflete grande parte das pesquisas e projeções divulgadas no período, com a maioria dos empresários esperando um volume de vendas modestos, ancorando as expectativas negativas na falta de respostas de variáveis importantes para a saúde financeira das famílias, como o desemprego ainda se encontra em nível muito alto (16,1%) e atinge quase 700 mil pessoas em Pernambuco. Vale destacar também que, apesar da queda mensal, o percentual é superior ao do mesmo mês do ano anterior, quando os endividados atingiam 62,8%.
Em números, o percentual de 69,6% de junho equivale a 355.556 famílias endividadas, decréscimo de 4.369 lares em um mês. Já em relação ao mesmo período de 2018, houve um aumento de 36.930 famílias nesta situação, enquanto o percentual das famílias que possuem contas em atraso apresentou redução, indo de 30,4% para 28,0% em um mês. O percentual de junho de 2019 para as famílias nesta situação também superou o de junho de 2018, quando o percentual era de 26,9%. Em um mês e em um ano, aproximadamente, 14.804 deixaram de apresentar dificuldades em pagamentos de dívidas financeiras e 6.604 famílias passaram a atrasar o pagamento de algum tipo de dívida.
Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado continua sendo o cartão de crédito, atingindo 94,9%, seguido pelo endividamento com carnês, que representa 21,7%. A maioria das famílias endividadas informa também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda, o que ainda é um ponto a ser melhorado. Para o mês de julho se espera mais uma elevação no endividamento das famílias, isto porque o período é posterior às comemorações tradicionais de maio e junho, além de ser um mês de férias.
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