Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
O primeiro semestre de 2019 deve terminar com um cenário bem mais modesto do que havia sido projetado no final de 2018. O sexto mês do ano é o que ainda pode render bons frutos, visto que é após o aquecimento do Varejo com o Dia das Mães, além de comportar duas importantes datas para o faturamento do comércio pernambucano, como o Dia dos Namorados e os Festejos Juninos. O mês de junho inicia com um movimento bem mais positivo que no mesmo período de 2018, já que, no ano passado, a data foi impactada de maneira forte pela greve dos caminhoneiros, ocorrida no final de maio, desta forma, o consumo deve seguir movimentação normal, com um desempenho do volume de vendas mostrando crescimento, mas deixando a sensação de que poderia apresentar um desempenho bem mais robusto do que o esperado atualmente.
A comemoração não deve fugir da costumeira compra de presentes, lembrando que, na data em especial, a compra é dupla, já que existe a tradicional troca de mimo entre o casal. Os segmentos mais aquecidos do comércio são os de vestuário, perfumaria, cosméticos e calçados, puxados também pela proximidade da data com o São João. A compra de vestuário e sapato é tão forte que torna o volume de vendas em junho o segundo maior para o segmento durante todo o ano, perdendo apenas para o mês de dezembro, superando datas como o Dia dos Pais e o Dia das Mães. É importante frisar que este comportamento não é visto nacionalmente, sendo uma característica dos pernambucanos, já que em cenário nacional o mês de junho reveza com o de maio na posição do segundo maior pico de vendas.
Analisando o comportamento dos preços no acumulado em 12 meses, através do IPCA-15, percebe-se que não existe uma pressão significativa em grande parte dos produtos com grande comercialização no período. Apenas as jóias e os relógios de pulso se encontram acima do índice geral da inflação, na Região Metropolitana do Recife (RMR), podendo ser puxado pela questão cambial, já que grande parte dos itens é de origem importada. Outros produtos com variação um pouco mais acentuada que as demais são os perfumes e livros, que também sofrem influência da desvalorização da moeda brasileira. Do outro lado, as roupas masculinas e os sapatos ainda não apresentaram alta sazonal, o que pode ser uma oportunidade para as pessoas que gostam de se adiantar nas compras em busca de um preço mais em conta. Dois itens que apresentam redução média de preço, comparado com os últimos 12 meses, foram a roupa feminina e os chocolates em barra e bombons, reflexo das ações de melhoria dos níveis dos estoques pós Páscoa e Dia das Mães.
No que se refere aos Serviços, os reflexos positivos do aquecimento da demanda são sentidos nos bares, restaurantes, motéis, teatros, cinemas, além dos serviços de beleza. Vale destacar também o setor de turismo, que, por conta de pólos importantes no interior do Estado como o Agreste e o Sertão, apresenta grande aquecimento, principalmente do público da RMR e de outros Estados do Brasil, elevando a demanda por transportes, hotéis e pousadas nas regiões onde se concentram as atrações. Os serviços de táxi continuam com variação nula, pressionados pela oferta dos serviços de aplicativos, assim como as tarifas de ônibus interestadual. Os hotéis também devem favorecer os turistas, com preços praticamente estáveis, o que pode compensar o comportamento das passagens aéreas, que, por uma menor concorrência devido a saída da Avianca, continuam apresentando preço mais elevado. Por fim, os serviços de beleza, que também recebem impacto positivo do período, apresentam estabilidade dos preços, com variações bem abaixo do nível geral.
O que ainda pode afetar as vendas
O endividamento ainda elevado, quando comparado com o mesmo período do ano anterior, pode afetar as vendas, alcançando uma taxa de 69% e atingindo mais de 350 mil famílias no Estado. Com dívidas ligadas ao consumo, devido à utilização de cartão de crédito e carnês, comprometendo entre 11% e 50% da renda, parte das famílias tem limitação de consumo, com muitas já não podendo mais pagar suas dívidas e ter acesso a crédito.
Outro importante fato com poder suficiente para puxar as vendas para baixo continua sendo o aumento do desemprego no Estado. A proporção de desempregado, no primeiro trimestre de 2019 em Pernambuco, ainda é muito elevada (16,1%), ficando em quinto lugar no país, atrás apenas do Amapá (20,2%), Bahia (18,3%), Acre (18,0%) e Maranhão (16,3%). A falta de empregos atinge 678 mil pessoas em Pernambuco, 30 mil a mais que no trimestre anterior e 65 mil a menos que no mesmo trimestre do ano anterior. Além disso, o saldo de emprego formal continua negativo, com menos 25 mil empregos entre janeiro e abril, limitando ainda mais a renda de grande parte das famílias.
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