Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume das vendas do varejo pernambucano voltou a recuar em junho. A taxa mostrou variação negativa de -0,3% no indicador mês, mês atual em relação ao mês anterior, e é a menor taxa para o indicador, desde janeiro do mesmo ano, quando o volume caiu -3,0%. É importante lembrar que o mês de junho para o estado é tradicionalmente de elevado desempenho das vendas, visto que existem comemorações que movimentam o comércio de maneira forte, como Dia dos Namorados e Festejos Juninos. Porém, o resultado negativo reflete um fraco consumo das famílias em relação a maio e sinaliza que a demanda está voltando a apresentar um comportamento mais conservador, segurando assim o nível de compras realizadas.
Pesquisas já apontavam para um desempenho modesto ou próximo de zero para as vendas de junho. Além disso, um inverno mais rigoroso que em anos anteriores contribuiu de maneira significativa para que a população evitasse o consumo ou comemorações, visto que as chuvas foram intensas, alagaram bairros, causaram deslizamentos, além de criar outros transtornos como problemas de mobilidade urbana e prejuízos financeiros em residências e estabelecimentos. O varejo acumula no ano, janeiro a junho, uma queda de -1,0%, que, apesar de negativo, vem apresentando modesta melhora nos últimos meses, visto que o acumulado em março era de -2,6%. Já em 12 meses, as vendas acumularam recuo de -0,7%, também com um movimento modesto de melhora ante os períodos anteriores.
É importante destacar que um dos principais entraves para o crescimento do volume de vendas pernambucano ainda continua sendo o deteriorado mercado de trabalho. Pernambuco encerrou mais de 20 mil vagas formais, nos seis primeiros meses do ano, o que implica em uma dificuldade orçamentária relevante para as famílias. Além disso, a taxa de endividamento continua apresentando valor alto quando comparado com os anos anteriores, atingindo mais de 350 mil famílias e também atuando no nível de consumo e puxando para baixo. Observa-se que nem mesmo uma inflação controlada e uma política de redução dos juros não estão conseguindo incentivar o consumo, apontando que a confiança das famílias no estado se ancora mais na questão do nível de empregabilidade.
No indicador mensal, mês atual em relação ao mesmo mês do ano anterior, o varejo pernambucano também apresentou queda, com uma variação negativa de -0,7%. O número é preocupante, pois aponta que, apesar da conjuntura difícil de greve e pré-eleições verificada em junho de 2018, as famílias ainda apresentam, no mesmo mês de 2019, um nível de consumo inferior sem o cenário apresentar acontecimentos com poder de choques negativos de demanda e oferta. Analisando por atividade, verifica-se que a maioria apresentou queda em relação ao mesmo período do ano anterior, com destaque negativo para “Livros, jornais, revista e papelaria”, com queda de -42,5%, justificado pela continuidade de mudança de cultura das pessoas com a inserção de novas tecnologias.
“Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação” recuou -13,7% e “Móveis e eletrodomésticos” teve variação negativa de -8,5%. É importante destacar que os dois segmentos não apresentam consumo elevado para o mês que se concentra em itens mais baratos e de uso pessoal. Na outra ponta, e ainda resistindo ao menor consumo das famílias, se destacam de maneira positiva “Outros artigos de uso pessoal e doméstico” e “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos”, puxados para cima pela comemoração do Dia dos Namorados.
O varejo ampliado pernambucano, setor que agrega todos os índices do varejo mais as atividades de “Veículos, motocicletas, partes e peças” e “Material de construção”, que vem de maneira geral apresentando bons resultados, também não conseguiu resistir ao fraco movimento do consumo da população em junho. A queda no indicador mês foi ainda maior que o varejo restrito e alcançou os -1,1%, sendo este o menor valor desde dezembro de 2018 para este tipo de comparativo. No comparativo mensal, também houve um recuo de -1,3%, após dois meses de alta, lembrando que a base de comparação é deteriorada, pois é o mês seguinte à greve dos caminhoneiros. O resultado foi proporcionado por um desempenho praticamente nulo do setor de veículos e uma queda acentuada na venda dos itens da construção.
Por fim, para o varejo ampliado, as vendas acumulam, no ano e em 12 meses 0,8% e 1,2%, respectivamente. A economia ainda vive um difícil período de transição, após os anos de queda acentuado e de crescimento modesto. No estado, as chuvas voltaram a ocorrer em praticamente todas as semanas de julho, trazendo assim uma expectativa de mais uma queda nas vendas ou em caso de surpresa um crescimento próximo a zero. A política de liberação do FGTS para a população teve seu efeito reduzido após o governo limitar o valor a R$ 500,00 por conta e criar um extenso calendário de saques que terminar no primeiro trimestre de 2020.
Referências: Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). Junho/2019. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor de Pernambuco (PEIC-PE). Junho/2019. Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Junho/2019
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