Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume das vendas do varejo pernambucano encerrou o ano de 2020 com crescimento, que, apesar de modesto, é um resultado a ser comemorado. Vale destacar que, no início da pandemia, em especial nos meses de março, abril e maio, as projeções para o desempenho do varejo eram extremamente negativas com o mercado esperando recuos superiores a dois dígitos para o ano de 2020.
Apesar de encerrar o ano com alta no volume de vendas, a taxa mostrou variação negativa de -6,5% no indicador mês, confirmando que dezembro não foi um bom período para as vendas e que a antecipação das compras realizadas em novembro com a comemoração da Black Friday vem conseguindo reduzir o resultado geral do varejo no mês seguinte. A variação de dezembro surpreende de maneira negativa, pois a intensidade do crescimento das vendas, a partir de maio, criou um movimento de recuperação que até então culminaria com um desempenho bem mais expressivo no último mês do ano.
Entre variáveis positivas e negativas, que influenciariam no desempenho de dezembro, verifica-se que o lado que puxou o resultado para baixo pesou de maneira mais forte. O fim do auxílio emergencial e o mês de dezembro foram os principais pontos para que o varejo, no último mês do ano, não respondesse de maneira esperada. Lembrando que o Auxílio Emergencial é um benefício financeiro pago pelo Governo Federal para garantir uma renda mínima aos brasileiros em situação de vulnerabilidade social, durante o período de emergência de saúde pública decorrente do novo coronavírus (Covid-19), previsto na Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020.
O projeto injetou em Pernambuco mais de R$ 10 bilhões entre abril e dezembro, contribuindo para atenuar a queda do consumo, além de aquecer parte dos segmentos do comércio, como móveis, eletrodomésticos, material de construção, hipermercados e farmácia. A não continuidade do programa elevou o comportamento conservador das famílias, visto que reduziria o nível de renda da população em vulnerabilidade e na informalidade.
A realização de uma Black Friday com mais pessoas consumindo de maneira digital, movimento acelerado pela questão das restrições para o combate à pandemia, também foi um dos pontos que puxaram as vendas de dezembro para baixo. Por fim, temos a inflação pressionando os preços de produtos essenciais e restringindo ainda mais o orçamento de parte dos consumidores.
Importante lembrar que, apesar do crescimento em 2020, apenas metade das atividades apresentou resultado positivo. As atividades com melhor desempenho, no ano passado, possuem peso relevante na composição geral da taxa, o que acaba puxando o resultado geral para cima. “Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo”, “Móveis e eletrodomésticos” e “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos” juntos somam mais de 50% da composição geral, e como tiveram resultados positivos e as vezes expressivos, no caso de móveis e eletrodomésticos, influenciou o resultado para cima. Outros segmentos com peso relevante, como “Tecidos, vestuário e calçados” e “Outros artigos de uso pessoal e domésticos”, tiveram desempenho bem negativo, impedindo o varejo de apresentar um resultado melhor em 2020.
O varejo ampliado pernambucano, setor que agrega todos os índices do varejo mais as atividades de “Veículos, motocicletas, partes e peças” e “Material de construção”, também respondeu de maneira forte aos incentivos do consumo gerados pelo governo. As vendas no indicador mês caíram -2,53%, apresentando menor intensidade do que o restrito. Lembrando que a necessidade de estar em casa incentivou as reformas residenciais e os reparos, atividades que puxaram o setor de material de construção e contribuiu para que a queda fosse menos intensa que o varejo restrito.
Quando comparado com o mesmo período do ano anterior, o volume de vendas pernambucano mostrou crescimento, o que mais uma vez confirma que a variação negativa em relação a novembro foi puxada pela força da antecipação das compras e de uma maior presença do digital na festividade da Black Friday. O volume de vendas mostrou alta de 4,1% quando comparado com dezembro de 2019.
Para o mês de janeiro, espera-se um recuo nas vendas, visto que o movimento que sustentou o comércio, no segundo semestre, deve mostrar desaceleração com o ritmo de vendas de eletrodomésticos, móveis e material de construção sendo bem menos intenso. A expectativa é que os primeiros meses do ano apresente uma ressaca de consumo, ocasionada pelo fim das ações emergenciais que distribuíram renda e que salvaram empregos formais, assim como os que conseguiram amenizar a restrição de caixa das empresas via disponibilização de crédito subsidiado.
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