Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume das vendas do varejo pernambucano mostrou variação positiva de 0,2% no indicador mês, mês atual em relação ao mês anterior, de maio. O resultado é superior ao de abril de 2018 e maio de 2017, quando as vendas registraram percentuais de 0,0% e 0,1%, respectivamente. É importante destacar que, mesmo com este crescimento modesto e próximo a zero, o resultado para o comércio pernambuco é bem positivo, pois o mês de maio apresentou acontecimentos que inevitavelmente iriam impactar o desempenho do varejo.
Lembrando que o mês de maio possui o período de superaquecimento das vendas, que é a comemoração da Sondagem de Opinião do Dia das Mães, considerada como a segunda data mais importante para o setor em nível de faturamento. A expectativa em relação à data era grande, pois seria um teste da velocidade de recuperação do consumo das famílias no ano tido como o de superação da crise econômica, sendo o termômetro para que os empresários pudessem medir o grau de investimentos para as próximas datas e em especial o fim de ano. Neste tipo de comparativo, os lojistas pernambucanos conseguiram se destacar, superando o volume de vendas de abril mesmo com a paralisação dos caminhoneiros nos dez últimos dias do mês, registrando taxa acima da média brasileira, que recuou -0,6% no mesmo período e comparação.
Já no indicador mensal, mês atual em relação ao mesmo mês do ano anterior, o varejo pernambucano voltou a cair, registrando recuo de -0,7% em maio. É importante destacar que o crescimento de maio de 2017 foi muito expressivo (8,0%) e em cima de dois anos com queda significativas, influenciado pela injeção de milhões de reais na economia devido aos saques do FGTS inativo, o que torna a queda de -0,7% em um mês com uma verdadeira crise de oferta não tão ruim. Na análise por segmento, conforme esperado, as maiores quedas ficaram com “Combustíveis e lubrificantes”, “Tecidos, vestuários e calçados” e “Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação”, registrando variações negativas de -7,9%, -8,3% e -4,4%, respectivamente.
Todas as atividades foram impactadas pelo choque de oferta criado pela greve, com a quantidade dos produtos nos estabelecimentos apresentando forte redução, a criação do ambiente de incertezas com a população evitando compras por não saber o tempo de paralisação, retorno do comportamento conservador com o consumo voltado apenas para gastos essenciais, além da retirada de grande parte da população dos grandes centros por impactar, praticamente paralisando o setor de transporte. Vale destacar que o resultado não foi pior pelo bom desempenho das vendas de “Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumos”, que, mesmo com a greve, foi compensado pela alta da demanda dos bares e restaurantes, no período de Dia das Mães, cresceu 4,6%.
O indicador que mede o desempenho das vendas, nos 12 meses encerrados em maio de 2018, acumula alta de 3,2%, deixando claro o início de tendência de desaceleração das vendas em Pernambuco. Os segmentos que mais contribuíram para este movimento foram “Combustíveis e lubrificantes” que saiu de 1,6% para -1,5% entre janeiro e maio, assim como “Tecidos, vestuários e calçados” de 10,7% para 2,5% e “Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação” saindo de 49,2% para 33,2%, neste mesmo período. O varejo ampliado, setor que agrega todos os índices do varejo mais as atividades de “Veículos, motocicletas, partes e peças” e “Material de construção”, mostrou tendência diferente do restrito em maio de 2018, com um recuo de -3,1%, após quatro meses consecutivos de crescimento no comparativo mês.
As vendas dos veículos recuaram em relação a abril e também foram impactadas pela greve dos caminhoneiros, pois as concessionárias não recebiam os veículos para as vendas, além da população mudar compras planejadas devido a um maior ambiente de incerteza, principalmente no consumo de itens com preço mais elevado, como é o caso dos veículos. Porém, quando se compara com o ano anterior, o segmento de veículos registra variação positiva, reflexo de uma melhora mais expressiva do crédito em 2018 quando comparado com 2017. Já o segmento de “Material de construção” no Estado ainda apresenta fraca demanda, acumulando em 12 meses variação negativa acima dos dois dígitos (-14,5%).
É importante destacar que o varejo, ampliado e restrito, está sendo afetado pela queda da confiança dos agentes, seja consumidor ou empresário. A expectativa de recuperação vem se deteriorando mensalmente, nas primeiras semanas do ano a projeção do mercado para a alta de PIB alcançou 2,7%, já na primeira semana de junho o valor recuou para 2,1%, impactado pela demora na resposta de indicadores importantes para acelerar o crescimento como a melhora do mercado de trabalho, além da produção industrial que ainda mostra-se em marcha lenta. Contribuindo para o cenário de incerteza, a economia vê a piora no cenário externo, com a guerra comercial entre China e EUA e a indefinição eleitoral no país como fatores que ainda podem deteriorar ainda mais a confiança da população e reduzir o desempenho das vendas do varejo em 2018.
Referência: Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). Maio/2018.
Leave a Comment