Com a criação de leis e projetos de incentivo, pessoas com deficiência apostam em qualificação profissional na busca de emprego
Por Ramon Andrade
Apoiado por um par de muletas, Renato Leitão se desloca com desenvoltura. A força dos braços transmite a disposição que ele tem para vencer os desafios da vida. “Não vejo minha deficiência como um obstáculo. Eu procuro me superar a cada dia e nunca me sentir desmotivado. Acho que essa filosofia vem do esporte, pois sou paratleta e os exercícios ajudam bastante no dia a dia”, comenta Renato. Mas seu esforço não se limita ao físico. Diante de um mercado de trabalho escasso e competitivo, ele segue alimentando o sonho de ter seu próprio negócio e vem acumulando cursos na área de computação. Recentemente concluiu a capacitação de Operador de Computador, no Senac Pernambuco, do qual participaram mais nove alunos com diferentes tipos de deficiência. Renato é mais um entre os 45 milhões de brasileiros que possuem algum tipo de deficiência, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São pessoas que, com o surgimento de leis e projetos de incentivo, estão mais otimistas na busca por um emprego. De acordo com o Ministério do Trabalho, nos últimos cinco anos, houve um aumento de 20% na participação de pessoas com deficiência (PCD) no mercado. Com isso, cresce na mesma proporção a procura por cursos de qualificação em instituições de ensino profissionalizante.
Em Pernambuco, há muito o Senac atende PCDs, disponibilizando professores capacitados, salas amplas e o apoio pedagógico necessário. “Não há turmas exclusivas para PCDs, pois eles são incluídos nos cursos e quando necessário é promovido todo suporte e incentivo, com intérprete de Libras, materiais em Braile, softwares específicos”, explica a gerente de Educação Profissional do Senac Pernambuco, Christiana Santoro.
Depois de concluir o curso de Operador de Computador, Renato elogiou os métodos de ensino do Senac e disse que não sentiu muitas dificuldades no processo de aprendizagem. “Eles têm o devido respeito de que necessitamos, as instalações são adaptadas a vários tipos de deficiência e as salas são bem acessíveis. O aluno sai com as seguintes marcas formativas: domínio técnico, visão crítica, atitude sustentável, atitude empreendedora e atitude colaborativa. São características essenciais para o mercado de trabalho”, afirma o ex-aluno. “Eu já tinha feito alguns cursos na área e estou adquirindo o máximo de conhecimento para, no futuro, abrir meu próprio negócio em computação”, acrescenta.
“A estrutura do Senac é muito boa, com acessibilidade e professores empenhados em ajudar. Temos acesso a laboratórios, vídeos, planilhas e outros recursos de informática”, conta Osir Bazante, que possui deficiência auditiva e fez o curso de Assistente Administrativo por meio do programa de gratuidade da instituição. “Acho muito importante a iniciativa, pois nos dá a oportunidade de aprofundar conhecimentos específicos do mercado. Sempre temos debates, junto com outras pessoas com deficiência, para entendermos como as coisas estão acontecendo lá fora”, complementa.
O instrutor do Senac, Carlos Eduardo Soares, foi o ministrante da turma de Operador de Computador, que reuniu 10 alunos com diferentes tipos de deficiência. “No começo achei que seria difícil, mas não tive muitas dificuldades, porque o público já vem com um interesse grande para obter a formação”, relata. “Encontramos fatores positivos no processo, por meio do planejamento docente, trabalhando por meio de práticas pedagógicas ativas, inovadoras, integradoras e colaborativas. Em sala, podemos simular situações que acontecem no mundo de trabalho, colocando o aluno como protagonista da cena pedagógica”, acrescenta.
Em ritmo crescente, a participação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho vai quebrando paradigmas e preconceitos. “Os alunos estão compreendendo que o mercado possui espaço para todos, que a sua deficiência não é um empecilho para o desenvolvimento profissional, basta ele ter dedicação aos estudos e buscar uma função que possa exercer. Ao final do curso, a troca de experiências entre os alunos e o professor foi muito enriquecedora. Aprendemos muito mais do que a organização curricular propõe, pois aprendemos muito sobre respeito e interação com o próximo”, finaliza Carlos Eduardo.
Legislação
Com 26 anos de existência, a Lei 8.213, de 1991, exige que empresas com 100 ou mais funcionários tenham de 2% a 5% (a depender da quantidade de empregados) de seus cargos preenchidos por pessoas com deficiência. Para o consultor da presidência da Fecomércio-PE, José Almeida de Queiroz, a luta pela inclusão social está cada vez mais forte.
“A adoção das leis é mais um passo do Brasil para promover avanços sobre o tema. Além da Lei das Cotas, temos a Lei 13.146, de 2015, que assegura, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades das pessoas com deficiência. Destacamos, ainda, a Lei 7.853, de 1989, que caracterizou como crime a discriminação de pessoa com deficiência no trabalho”, cita o especialista.
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