A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) pernambucano voltou a mostrar movimento na direção inversa do nacional, com percentual de endividados em maio (74,0%) subindo em relação a abril (71,1%). Esta é a maior taxa de endividados para os meses de maio desde 2014, quando o número foi de 78,0%.
Há de se destacar a diferença entre os períodos de 2014 e 2020, visto que o primeiro foi o ano pré-recessão, com o PIB já apresentando desaceleração e ritmo menor de geração de vagas, porém ainda não se tinha clareza do que viria pela frente em termos de queda na produção. Além disso, 2014 foi um ano eleitoral onde existe maior incentivo ao consumo e investimento, criando assim um ambiente mais propício ao aumento do número de endividados, o que torna o endividamento de seis anos atrás menos crítico do que atualmente, pois a população ainda apresentava condições menos restritivas de renda.
Já o endividamento atual é puxado pela paralisação do setor produtivo e alta do desemprego, principalmente para a população informal, que não possui direitos que podem cobrir parte da queda da renda que estão vivendo. O consumo vem sendo concentrado em itens essenciais devido ao início das restrições adotadas pelo Governo para conter a velocidade da epidemia da Covid-19.
É importante destacar que parte destes itens apresenta variação positiva na inflação, em especial alimentos, e obriga as famílias a recorrer ao crédito para manter as compras. Vale lembrar também que a alta já era esperada, visto que o consumo das famílias foi antecipado em março, teve ritmo lento em abril e muito provavelmente retornaria em maio para o reabastecimento dos itens devido à continuidade da quarentena e elevação do nível de restrição no deslocamento.
É de conhecimento de todos que os transtornos causados pela infecção do novo Coronavírus (Covid-19) na saúde e na economia de todo o país contribuem para jogar em uma grave recessão o setor produtivo pernambucano e, em especial, o setor do comércio de bens, serviços e turismo, visto que o consumo das famílias, além de se retrair devido ao comportamento mais conservador com o momento crítico, é restringido também devido ao fechamento de grande parte dos centros comerciais e das medidas de restrição de deslocamento.
O momento é muito difícil e tem o poder de elevar o percentual de dados sociais críticos, como o número de famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, visto que a maioria destas famílias sobrevivem na informalidade e, com a restrição de isolamento, grande parte dos serviços e do comércio foi obrigada a fechar, criando assim um ambiente danoso para a obtenção de renda por parte destas famílias.
Para piorar o auxílio emergencial criado pelo governo federal apresenta processo demorado para a disponibilização das famílias, além disso, a necessidade de inscrição via internet é um impeditivo para aquela parte da população que é vulnerável e não possui conhecimento necessário à inscrição, tão pouco possuem equipamentos para se instruir, como TV, rádio ou até mesmo smartphones.
Desta forma, a população que se encontra sem renda e até mesmo aquelas que ainda possuem trabalho iniciam um maior consumo através do crédito. A primeira porquê de fato não possui renda para consumir à vista e a segunda para criar uma reserva para momentos que precisem de maior liquidez, como gastos médicos em caso de contaminação da Covid-19 ou até mesmo por outras complicações. É provável que, a partir de maio, o endividamento engate uma curva de alta, encerrando meses após o fim do isolamento e a melhora do mercado de trabalho.
Em números, o percentual de 74,0% equivale a 380.205 famílias endividadas, alta de 15.316 lares em um mês, já em relação ao mesmo período de 2019 houve uma alta de 20.280 famílias. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 31,1%, alta em relação a abril e quando comparado a maio do ano anterior, que registraram percentual de 30,3% e 30,4%, respectivamente.
É importante lembrar que estas famílias já apresentavam maior dificuldade no pagamento de suas dívidas, com orçamento mais apertado, aumentando as dificuldades de honrar todos os pagamentos em um período de maior restrição devido à epidemia da Covid-19. Atualmente, no estado, 159.833 famílias estão com alguma conta em atraso.
Já a parcela da população com a situação mais crítica, que é aquela que informa não ter mais condições de pagar as suas dívidas, mostrou percentual de 15,8%, o que corresponde a 81.365 mil famílias inadimplentes. Este grupo apresentou alta significativa de famílias nesta situação, com acréscimo mensal e anual de 9.741 e 18.606 lares, respectivamente.
Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado continua sendo o cartão de crédito, atingindo 91,3%, seguido pelo endividamento com carnês, que representa 15,5%. A maioria das famílias endividadas informa também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda, valor considerado preocupante, visto que, após o pagamento das despesas correntes, grande parte das famílias pode não apresentar recursos para investir, limitando a capacidade do crescimento familiar.
Para o mês de junho, espera-se uma continuidade da elevação no endividamento das famílias, isto porque as demissões, paralisações dos setores e o ritmo baixo de contratação já criaram uma restrição orçamentária crítica, levando as famílias a continuar utilizando o crédito para manter o consumo de bens essenciais neste momento de quarentena. Além disso, o mês de junho possui datas importantes como Dia dos Namorados e São João, que, mesmo não apresentando comemoração a nível de anos anteriores, tende a apresentar um consumo mais elevado das famílias em quarentena.
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