Conforme esperado, o percentual de endividados na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) pernambucano mostra movimento na mesma direção que a nacional e volta a crescer no oitavo mês do ano. O percentual de famílias endividadas em agosto atingiu os 76,4%, subindo em relação a julho, que havia mostrado redução em relação a junho e estava em 73,9%. Esta é a maior taxa de endividados desde maio de 2014, quando o resultado atingiu os 78,0%, já para os meses de agosto este é o maior valor desde 2011, quando os endividados atingiram o percentual de 77,5%.
Mais uma vez, um dos fatores para esta alta no endividamento ainda é a atual conjuntura crítica da economia, gerada pelas restrições adotadas no combate à pandemia da covid-19 em Pernambuco. O contexto continua criando desdobramentos extremamente negativos para a economia de maneira geral. Um dos principais pontos foi a paralisação do setor produtivo, que impôs queda no faturamento dos estabelecimentos e, consequentemente, resultou em cortes de despesas para sobrevivência, que, inevitavelmente, transformou-se em redução de mão de obra, formal e informal.
O desemprego cresceu a cada semana e, segundo o IBGE, a desocupação, no segundo trimestre de 2020, alcançou os 15% no estado de Pernambuco, atuando para reduzir o poder de compras de grande parte das famílias, aumentando a restrição orçamentária, e, por fim, levando ao financiamento das compras para manter o nível de consumo conquistado nos últimos anos.
Outro importante destaque é que o mês de agosto possui a comemoração do Dia dos Pais, data importante do calendário de consumo dos brasileiros e que foi a primeira data após a reabertura dos estabelecimentos considerados não essenciais. Desta forma, já existia uma expectativa positiva para este movimento maior de consumo, visto que o cenário incentivava uma maior intenção de comemoração diante de um contexto social atualmente ligado mais à questão do fortalecimento dos laços familiares. A pesquisa de sondagem de opinião para a data realizada pelo Instituto Fecomércio-PE também já apontava um maior consumo por crédito, o que, consequentemente, resultaria em uma elevação dos endividados.
Já apontado na intenção de consumo das famílias, outro fator relevante é a injeção de recursos realizada pelo auxílio emergencial do Governo Federal no estado de Pernambuco, que alcançou os R$ 6,7 bilhões de reais em julho e segurou o consumo das famílias em itens essenciais como os de alimentação, no segmento de hipermercados e supermercados, além de gerar desdobramentos positivos também nos segmentos de eletrodomésticos, móveis e material de construção.
Pernambuco foi o quarto estado que mais recebeu recursos do programa, ficando atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. A liberação do FGTS emergencial, valor limitado a R$ 1.045, também vem contribuindo para que o poder de consumo dos que ainda se encontram empregados ou com recursos em contas inativas não seja impactado pela atual conjuntura.
Em números, o percentual de 76,4% equivale a 393.189 famílias endividadas, alta de 13.452 lares em um mês, já em relação ao mesmo período de 2019 houve uma alta de 36.361 famílias. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 31,3%, alta em relação a julho e quando comparado a agosto do ano anterior, que registraram percentual de 30,4% e 31,2%, respectivamente. É importante lembrar que estas famílias já apresentavam maior dificuldade no pagamento de suas dívidas, com orçamento mais apertado, aumentando as dificuldades de honrar todos os pagamentos em um período de maior restrição devido à pandemia de covid-19. Atualmente, no estado, 160.955 famílias estão com alguma conta em atraso.
Já a parcela da população com a situação mais crítica, que é aquela que informa não ter mais condições de pagar suas dívidas, mostrou percentual de 12,4%, o que corresponde a 63.814 mil famílias inadimplentes. E como os dois primeiros este grupo apresentou alta no número de famílias nesta situação em relação ao mês anterior, com alta mensal de 2.024. Já na comparação anual, o percentual de famílias inadimplentes caiu e teve decréscimo de 927 lares. Essa queda anual reflete o maior número de acordos e uma facilidade maior criada pelas credoras devido ao período econômico difícil.
Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado continua sendo o cartão de crédito, atingindo 92%, seguido pelo endividamento com carnês, que representa 23,5%. A maioria das famílias endividada informa também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda. Para o mês de setembro se espera uma continuidade da elevação do endividamento, isto porque o mês carregará a Semana do Brasil, período de promoções no comércio, o feriadão da Independência e a antecipação das compras em relação ao Dia das Crianças.
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