Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE
Conforme esperado, o percentual de endividados, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) pernambucano, mais uma vez mostra movimento na direção contrária do nacional e volta a subir em novembro pelo terceiro mês consecutivo. O percentual de famílias endividadas atingiu os 77,4%, ante 76,1% do mês de outubro.
É importante destacar que o movimento já era esperado, visto que o último trimestre do ano favorece um maior nível de endividamento, em especial o mês de novembro, devido à comemoração da Black Friday e do pagamento do décimo terceiro salário. Além disso, a pesquisa de sondagem de opinião realizada pelo Instituto Fecomércio-PE apontou crescimento na intenção de consumo dos pernambucanos para a data quando comparado com a pesquisa do Dia das Crianças de 2020.
A Black Friday, data comemorativa que vem se consolidando e que atualmente é a quinta mais importante em termos de faturamento para o varejo, contribuiu de maneira significativa para a elevação do consumo e consequentemente do endividamento. A data tem a característica de promoções agressivas e de consumo majoritário por canais digitais, o que torna o ano de 2020 especial, visto que durante o período de isolamento e restrições a população que já comprava via internet passou a comprar ainda mais e parte daqueles que nunca comprou passou a usar o e-commerce como canal de consumo.
Além disso, os próprios estabelecimentos, movimento puxado pelas grandes varejistas, apostaram no período para amenizar os impactos negativos dos meses anteriores e marcaram forte presença nas propagandas, contribuindo para que o endividamento também subisse durante o mês.
A redução no valor do auxílio emergencial em 50% também contribuiu para o movimento de alta do endividamento, visto que aumentou a restrição orçamentária das famílias e incentivou o consumo financiado via crédito. O programa injetou mais de R$ 10,7 bilhões na economia pernambucana entre abril e outubro de 2020, o que possibilitou a manutenção do consumo das famílias, contribuiu para amenizar a queda da massa salarial e segurou parte da confiança da população, principalmente daqueles que estavam alocados na informalidade dos que estavam em vulnerabilidade social.
O mercado de trabalho também apresentou dois movimentos, o formal vem com melhora nos últimos meses, amenizando o saldo negativo resultante da crise econômica gerada pela infecção da covid-19 no Estado, enquanto a taxa de desemprego apresentou alta significativa alcançando 18,8% no terceiro trimestre de 2020, refletindo uma maior dificuldade dos postos de trabalho informais. Vale destacar que ambos os movimentos contribuem para o endividamento, o primeiro com o aumento da renda, do poder de consumo e da confiança daqueles que retornaram ao mercado de trabalho, enquanto o segundo cria restrição e incentiva o consumo financiado pela população que encontra-se com dificuldades de geração de renda devido à impossibilidade de trabalho.
Em números, o percentual de 77,4% equivale a 398.629 famílias endividadas, alta de 6.595 lares em um mês, já em relação ao mesmo período de 2019 houve uma alta de 25.976 famílias. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 29,0%, queda em relação a outubro e quando comparado a novembro do ano anterior, que registraram percentual de 29,8% e 29,9%, respectivamente.
O movimento é positivo, pois o percentual de famílias nesta situação recuou pela terceira vez consecutiva, o que comprova que parte das famílias se encontra com comportamento mais conservador e que vem trabalhando em um menor ritmo de consumo e de ajuste em suas finanças. Atualmente, no estado, 149.478 famílias estão com alguma conta em atraso.
Já a parcela da população com a situação mais crítica, que é aquela que informa não ter mais condições de pagar suas dívidas, mostrou percentual de 12,6%, o que corresponde a 64.930 mil famílias inadimplentes. E como no grupo anterior este grupo apresentou a terceira queda consecutiva no número de famílias nesta situação, com queda mensal de 4.766 lares. Na comparação anual, o percentual de famílias inadimplentes também recuou e teve decréscimo de 1.407 lares. Essa queda anual reflete, mais uma vez, o maior número de acordos através dos feirões limpa nome, o que traz uma facilidade maior para a regularização das dívidas.
Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado continua sendo o cartão de crédito, atingindo 93,7%, apresentando crescimento quando comparado a outubro, onde o percentual era de 90,7%, seguido pelo endividamento com carnês, que representa 27,2%, ante 22,2% do mês anterior, o que reflete um maior consumo daqueles que estão sem acessar créditos mais baratos como o cartão de crédito e recorrem para manter o consumo a opções mais caras como os carnês. A maioria das famílias endividadas informa também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda.
Para o mês de dezembro, espera-se uma continuidade da elevação do endividamento, visto que o mês já vem após a elevação das dívidas de novembro, continua com vários incentivos para o consumo, como a comemoração do Natal e do Ano Novo, além do recebimento da segunda parcela do 13º salário para parte dos empregados com carteira assinada e aposentados.
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