Por: Redação Portal Movimento Econômico, com Patrícia Raposo/CBN Recife
A declaração do presidente da Fecomércio-PE, Bernardo Peixoto, vem no bojo do crescimento dos casos de covid-19 e do receio empresarial com novo lockdown
O presidente do Sistema Fecomércio-PE, Bernardo Peixoto, anda preocupado com o crescimento dos casos de covid-19 em Pernambuco: na primeira semana do ano, eles subiram 19%. Ele teme que isso leve o governo estadual a decretar medidas mais restritivas às atividades econômicas para conter o avanço da doença. Nesta entrevista à jornalista Patrícia Raposo, editora do Movimento Econômico, Peixoto diz que as empresas do setor sofreram muito com o lockdown, porque a maioria estava se recuperando de outra crise, a que foi iniciada em 2016. Peixoto ressalta que o empresário tende a ser o alvo mais vulnerável das ações governamentais e diz que as autoridades devem olhar com mais atenção para quem descumpre os protocolos. Ele fala ainda dos desafios do e-commerce e do necessário resgate do comércio de rua. Confira:
Movimento Econômico – Estamos preparados para uma nova onda da covid-19?
Bernardo Peixoto – Não. Estamos preocupados. A população não assimilou o problema. O governo deve olhar para quem não está cumprindo os protocolos. O segmento empresarial não pode ser penalizado de novo. Estamos cumprindo os protocolos há meses, desde o fim do lockdown, e só agora os casos voltaram a subir. E por quê? Porque tivemos eleições, com candidatos nas ruas, festas, praias lotadas com a chegada do verão, desrespeito por todos os lados. Mas o empresário tende a ser o alvo mais fácil.
ME – Como o comércio se prepara para o fim do auxílio emergencial?
BP – O ano de 2021 não será fácil. Sem a ajuda governamental, muitas empresas não vão aguentar. Como elas se comprometeram em não demitir, porque aderiram ao pacote de ajuda do governo federal, estamos prevendo muitos problemas jurídicos. O micro e pequeno empresário vai sentir. Teremos um início de ano difícil.
A ajuda do governo federal foi muito forte, principalmente no interior. Se o PIB crescer 3%, em 2021, recupera em parte o que foi perdido. Mas só vamos voltar a crescer com as reformas. A administrativa é fundamental.
ME – Como o comércio pernambucano deve fechar o ano de 2020 sob o impacto da pandemia?
BP – Apesar de recuperação, ainda fecha no vermelho. Ficamos com as portas fechadas por mais de 90 dias. E, quando reabrimos, a falta de matéria-prima para a indústria provocou desabastecimento. Não conseguimos repor os estoques. Ainda hoje vemos uma espera de dois meses por um carro. Temos que lembrar que em 2019 ainda estávamos nos recuperando da outra crise, que começou em 2016. Esperávamos que 2020 fosse um ano de superação.
ME – Essa pandemia empurrou definitivamente o comércio pernambucano para o online?
BP – O comércio jamais vai ser 100% online, mas este é um caminho sem volta. As micro e pequenas empresas precisam se adaptar porque a concorrência vai ser grande. As grandes lojas têm muita estrutura e isso põe em risco os negócios que não se adaptarem. Mas, o futuro é misto, vendas físicas e online. E vai ter muita coisa sendo vendida de casa, do home office.
ME – Quais os principais desafios da Fecomércio neste cenário?
BP – Precisaremos fazer esforço para incentivar a regularização desses microempresários e capacitá-los. Muita gente cresce e quebra. É preciso analisar o ganho em escala versus a despesa. É preciso ainda saber atuar no online, estar atendo às reclamações, à política de devoluções, etc.
ME – Como o senhor imagina o comércio de rua em cinco anos?
BP – Vai depender do governo, dos programas de apoio. Se o governo der apoio, colocar camelôs em áreas apropriadas ou construir shoppings populares, a situação melhora. As obras no Cais José Estelita criarão um canal com a Av. Dantas Barreto, levando fluxo positivo para o camelódromo. Mas, é preciso requalificar aquela área, dar instalações adequadas ao camelô, cuidar do lugar onde ele será instalado, dar treinamento. E deixar as calçadas do centro livre para o pedestre. Quem quer visitar um centro de cidade como o que temos hoje?
ME – Que transformações foram mais perceptíveis com a pandemia?
BP – Enxugamos muito nossas estruturas, tínhamos muita gordura. Ficamos como empresas de primeiro mundo, com o custo menor possível, margem menor e com mais cuidados. O grande medo da gente é a insegurança jurídica. Trabalhamos numa direção e depois mudam tudo. Precisamos de transparência, simplificar a arrecadação, reduzir custos. É como dizem: “no Brasil, até o passado é incerto”.
ME – Qual a taxa de mortalidade das empresas do setor?
BP – Mortalidade diminuiu após o trabalho de orientação feito pelo Sebrae. Há 10 anos, era de 80% de mortalidade até os primeiros cinco anos. E hoje, entre 50% e 60%, quebram neste período.
ME – Como viu as declarações do presidente Jair Bolsonaro de que o Brasil está quebrado? Concorda?
BP – Não. O Brasil não está quebrado, mas precisa é de reformas administrativa, política e tributária.
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