- Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio PE
O índice de “Intenção de Consumo das Famílias Pernambucanas (ICF)”, indicador utilizado para medir a avaliação que os consumidores em Pernambuco fazem sobre aspectos importantes da condição de consumo, como a sua capacidade de consumo, atual e de curto prazo, nível de renda doméstico, segurança no emprego e qualidade de consumo, presente e futuro, apresentou a quinta alta consecutiva em março de 2021. O resultado foi surpreendente, visto que o mercado de trabalho ainda não apresentou resposta significativa e os programas emergenciais de apoio às famílias ainda não foram colocados em prática.
É importante destacar que o indicador serve como um antecedente do consumo, a partir do ponto de vista dos consumidores. Desta forma, crescimentos (redução) no indicador significam um aumento (queda) no consumo das famílias para o período indicado, podendo ser utilizado pelo mercado para se planejar, antecipando os movimentos de consumo das famílias pernambucanas.
A alta, mais uma vez, não era esperada, visto que o início do ano de 2021 vem se mostrando ainda crítico para a renda familiar. A população continua apresentando restrições orçamentárias devido à queda no rendimento com elevação do desemprego. Vale destacar que programas de distribuição de renda, como o auxílio emergencial, apesar de ser anunciado novamente em 2021, virá com um valor bem inferior ao disponibilizado em 2020, comprometendo a manutenção do poder de consumo de parte das famílias.
Além disso, o movimento inflacionário continua em processo de elevação, testando o limite orçamentário das famílias e reduzindo a renda disponível de grande parte da população. Produtos essenciais e de consumo praticamente diário apresentam comportamento de elevação contínuo nos últimos meses, o que acaba criando um comportamento conservador em relação ao consumo, desincentivando o consumo de itens mais ligados à questão do bem-estar social, como móveis, eletrodomésticos e material de construção.
O mercado de trabalho em situação crítica ainda é um dos principais pontos de movimentação lenta do indicador. Pois, apesar da alta, o índice ainda continua abaixo do nível de satisfação, impossibilitando movimentos de consumo mais fortes. Vale destacar também que este comportamento de insatisfação é uma realidade das famílias pernambucanas a praticamente 5 anos, comprovando que a crise de 2015/2016 foi forte o suficiente para puxar o consumo da população para baixo.
O mercado de trabalho de Pernambuco apresentou piora clara, após a pandemia da covid-19 atingir o estado. A taxa de desocupação trimestral pernambucana saiu de 14,0% para 19,0% entre o último trimestre de 2019 e 2020. O percentual de 2020 equivale a 749 mil desocupados, alta de 27,7% no comparativo com o mesmo período de 2019. Com a redução do número de empregados, a massa de rendimento real pernambucana caiu -11,9%, trazendo mais implicações negativas para o desempenho dos setores e consequentemente da arrecadação pública.
Do outro lado, o saldo de empregos no estado ficou positivo em 1.421 (vagas em janeiro), puxado pelos setores de serviço de hospedagem e financeiro, que ainda conseguiam na pandemia ter parte da demanda por turistas que buscavam lazer no mês tradicionalmente de férias, caso do primeiro, e pela necessidade de manter as transações financeiros de famílias e empresas, caso do segundo.
É importante lembrar que a pesquisa para o mês de março foi realizada nos últimos 10 dias de fevereiro, não absorvendo as medidas restritivas do governo de Pernambuco anunciadas em março. Desta forma, os impactos de tais medidas podem puxar para baixo a avaliação de consumo no mês de abril, visto que o retorno do isolamento social e da não possibilidade de funcionamento dos serviços não essenciais podem, mais uma vez, elevar o número de demissões e criar mais restrições orçamentárias.
O indicador atingiu os 70,6 pontos ante 69,0 de fevereiro de 2020 e 87,3 do mesmo período do ano anterior. Na análise por indicadores, verifica-se que o nível de consumo atual foi quem apresentou a queda mais intensa em março, sendo este o mais impactado pelo fim do auxílio emergencial, pelo mercado de trabalho com aumento do desemprego, restrição orçamentária e endividamento elevado. Para o mês de abril, a expectativa é de queda na intenção de consumo das famílias, mesmo com o mês possuindo uma data importante para o calendário de consumo, que é a Páscoa. Essa expectativa negativa é ancorada pelo retorno das restrições devido ao aumento no número de infecções e casos graves da covid-19 no estado.
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