Por Rafael Ramos*
O “Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) Pernambucanas”, indicador utilizado para medir a avaliação que os consumidores em Pernambuco fazem sobre aspectos importantes da condição de consumo, como a sua capacidade de consumo, atual e de curto prazo, nível de renda doméstico, segurança no emprego e qualidade de consumo, presente e futuro, apresentou crescimento pelo segundo mês consecutivo em setembro de 2020, após um período de queda puxado pela conjuntura negativa criada pela COVID-19.
É importante destacar que o indicador serve como um antecedente do consumo, a partir do ponto de vista dos consumidores, desta forma, crescimentos (redução) no indicador significam um aumento (queda) no consumo das famílias para o período indicado.
Mais uma vez, o crescimento era esperado, visto que o segundo semestre de 2020 apresenta uma conjuntura menos deteriorada, o que acaba incentivando um nível de consumo melhor do que o semestre anterior. O mês de setembro tem datas importantes ligadas ao consumo de alimentação e bebidas devido ao feriado da Independência, que, este ano, caiu em uma segunda-feira, criando um feriadão e em Pernambuco é usado como a abertura da estação ligada ao sol e incentiva o retorno às praias.
Além disso, em 2020, tivemos a segunda edição da Semana do Brasil, período de promoções do varejo para aquecer as vendas diante de um mês sem datas comemorativas fortes. É importante destacar que o desempenho do varejo no estado continua em um movimento de recuperação considerado bom, visto que alguns segmentos apresentam volume de vendas significativo, mesmo no período da pandemia, como eletrodomésticos, móveis, material de construção e hipermercados.
O mercado de trabalho formal também voltou a apresentar saldo positivo na geração de vagas em julho, o que também contribui para a amenização da queda na renda, visto que o maior saldo de empregos foi gerado dentro da indústria, que, geralmente, paga um rendimento médio maior que os demais setores. Foram criados 4,6 mil empregos, sendo o primeiro saldo positivo entre os meses de 2020.
Mas, vale destacar que, no acumulado do ano, o saldo ainda é muito negativo, com perda de praticamente 63 mil empregos em sete meses, gerando uma dificuldade adicional para a recuperação do nível de consumo das famílias a níveis pré-crise.
O indicador atingiu os 59,6 pontos, ante 57,8 de agosto de 2020 e 80,3 do mesmo período do ano anterior. Mais uma vez é importante lembrar que a intenção de consumo continua na zona de avaliação negativa, abaixo dos 100 pontos, e esta condição vem desde agosto de 2015, refletindo que a crise iniciada no ano em questão foi tão crítica que o consumo da população ainda não mostrou recuperação suficiente para atingir um nível de satisfação da pesquisa.
É importante destacar também que em ambos os períodos, na crise de 2015/2016 e na pandemia atual, variáveis importantes foram duramente atingidas, como o emprego, com o mercado de trabalho formal e informal apresentando desdobramentos extremamente negativos.
Vale destacar que também deram contribuições importantes para essa melhora do indicador a injeção de recursos realizada pelo auxílio emergencial do Governo Federal no Estado de Pernambuco, que alcançou os R$ 7,1 bilhões de reais em agosto e segurou o consumo das famílias em itens essenciais, como os de alimentação e nos produtos ligados ao bem estar social, como eletrodomésticos, móveis e os materiais de construção.
Pernambuco foi o quarto estado que mais recebeu recursos do programa, ficando atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. A liberação do FGTS emergencial, valor limitado a R$ 1.045, também vem contribuindo para que o poder de consumo dos que ainda se encontram empregados ou com recursos em contas inativas não seja impactado pela atual conjuntura.
Na análise por indicadores, verifica-se que a perspectiva profissional apresenta maior variação puxada pela expectativa de contratação no final do ano para responder a uma demanda mais aquecida, principalmente no setor de comércio e serviços. Outro ponto positivo também foi o de compra a prazo, que reflete o acesso ao crédito, com alta puxada pela injeção do auxílio emergencial e a bancarização de parte da população.
Do outro lado, o momento para duráveis e a perspectiva de consumo continuam negativos, o primeiro influenciado ainda pela incerteza em relação ao médio/longo prazo, o que acaba desincentivando a compra de produtos mais caros, como os duráveis, e o segundo já captando a informação de queda no valor do auxílio emergencial e do fim do programa em dezembro de 2020.
Para o mês de outubro, a expectativa é de continuidade de alta da intenção de consumo, visto que o mês possui a comemoração do Dia das Crianças e que este ano cairá em uma segunda, incentivando o consumo mais uma vez de serviços.
Rafael Ramos é economista da Fecomércio-PE*
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