*Por Ademilson Saraiva, da Assessoria Econômica da Fecomércio PE
O estágio mais crítico da pandemia no Brasil está ficando para trás e em 2022 a Páscoa será mais segura para os tradicionais encontros familiares e brincadeiras infantis em torno da confraternização da Quaresma e da distribuição de ovos de chocolate. Considerando que as famílias brasileiras se encontram ansiosas para celebrar a data e o que ela representa, em meio ao clima de retomada das atividades econômicas e sociais, essa é uma pré-disposição que só encontrará barreiras nas atuais condições de consumo observadas por elas.
Com o aumento da demanda global e o câmbio que ainda estava no patamar de R$/US$ 5,50 no início ano, a importação de produtos típicos ou de suas matérias-primas, a exemplo do bacalhau e do chocolate, pesa mais para a indústria nacional e, consequentemente, os itens chegam mais caros para o consumidor nos hipermercados e supermercados. No caso do chocolate, o país está entre os maiores produtores da matéria-prima no mundo, o que favorece também a sua exportação, frente à demanda internacional e o valor do dólar, em detrimento do mercado interno.
Para se ter uma ideia, a balança comercial da indústria do chocolate no país se manteve praticamente estável no primeiro trimestre dos últimos quatro anos (2019 a 2022), inclusive com saldo positivo de US$ 1,59 milhões este ano. Na balança comercial do bacalhau, no qual o Brasil é basicamente importador, o valor da importação supera US$ 50 milhões no primeiro trimestre, mas caiu 14,5% em relação ao mesmo período de 2021, quando já havia recuado 17% em relação ao ano anterior.
As projeções da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) sobre o tema apontam que esse ano o volume de vendas do comércio varejista, ou faturamento descontado da inflação, em itens relacionados à Páscoa, terão um avanço de 1,9% no país. Embora o resultado do varejo seja positivo, significa um faturamento real ainda abaixo dos volumes registrados nos dois anos anteriores à pandemia. Além da difícil situação do mercado de trabalho, que impactou fortemente a renda das famílias desde 2020, o aumento substancial no preço de produtos típicos da Páscoa também pode contribuir para que as vendas não avancem além do desejado.
No caso dos ‘chocolates em barra e bombons’, a última divulgação do IPCA-15, em março, revelou um aumento de preços de 11,1% em 12 meses, variação que na Região Metropolitana do Recife ficou em 22,7%. No estado de Pernambuco, apesar de a conjuntura econômica se mostrar mais adversa do ponto de vista do emprego e da renda, o comércio varejista ainda tem expectativa para colher um resultado satisfatório com as vendas relacionadas à essa época do ano.
O fato é que o mesmo lastro de fragilidade que a pandemia deixou na atividade econômica e que derrubou o rendimento médio real do trabalho no estado em 12% ao longo de 2021, tende a impulsionar iniciativas de empreendedorismo por necessidade, com o objetivo de angariar uma renda extra nesse momento.
Com essa perspectiva, além das vendas de alimentícios e bebidas, também as vendas de embalagens e decorações, além de insumos para fabricação caseira de chocolates e ovos, favorecem outros segmentos do comércio local, os pequenos empreendedores e também aos consumidores que buscam alternativas mais baratas para a Páscoa.
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