- Por Ademilson Saraiva, da assessoria econômica da Fecomércio-PE
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), visando traçar um perfil do endividamento, acompanhando o nível de comprometimento do consumidor com dívidas e sua percepção em relação à sua capacidade de pagamento.
O percentual de famílias endividadas chegou a 80,6% em fevereiro de 2022, com variação de 0,2 ponto percentual em relação a janeiro e de 1,3 ponto percentual em relação a fevereiro do ano anterior. Com esse resultado, a taxa voltou ao patamar observado em julho de 2021.
O resultado de fevereiro de 2022 representa o maior percentual de famílias endividadas na série histórica da PEIC em Pernambuco para o mesmo mês, superando o último recorde que ocorreu em fevereiro de 2021 (79,3%).
Na comparação com fevereiro de 2021, o percentual das que se consideram muito endividadas cresceu de 12,2% para 20,4%. Mas, na comparação com o mês anterior (janeiro), houve queda de 2,2 ponto percentual (de 22,6% para 20,4%).
Pernambuco: Proporção de famílias segundo a dimensão do endividamento (% em relação ao total de famílias) – fevereiro/2021, janeiro/2022 e fevereiro/2022
Situação | Fev/2021 | Jan/2022 | Fev/2022 |
Muito endividado | 12,2% | 22,6% | 20,4% |
Mais ou Menos endividado | 35,9% | 34,5% | 35,0% |
Pouco Endividado | 31,2% | 23,3% | 25,2% |
Não tem dívidas desse tipo | 20,7% | 19,6% | 19,4% |
Não sabe | 0,0% | 0,0% | 0,0% |
Não respondeu | 0,0% | 0,0% | 0,0% |
Fonte: PEIC/CNC.
Entre os tipos de dívidas mais frequentes, houve um aumento na proporção de famílias que consideram a presença do cheque especial na composição das dívidas, na passagem de janeiro para fevereiro, de 8,4% para 10,8%. Os demais tipos de dívida mantiveram praticamente o mesmo nível observado em janeiro, com destaque mais uma vez para o cartão de crédito, que é mencionado por 95,6% das famílias.
Em fevereiro, a parcela média da renda comprometida com as dívidas registrou estabilidade, embora elevada, permanecendo em 30,7%, mesmo patamar de janeiro. Esse número está 1,8 ponto percentual acima do registrado em fevereiro de 2021. Também se registrou estabilidade no tempo médio de comprometimento com as dívidas, que passou de 7,6 para 7,7 meses entre janeiro e fevereiro.
A inadimplência – percentual de famílias com contas em atraso – também oscilou discretamente no último mês, saindo de 32,3% em janeiro para 32,8% em fevereiro. Por outro lado, na comparação anual, com o mesmo mês de 2021, o indicador avançou 3 pontos percentuais.
A proporção de famílias sem condições de pagar contas em atraso, por sua vez, manteve praticamente o mesmo patamar de janeiro, ficando em 17,3%. Embora tenha freado o avanço, o indicador se encontra 5,1 pontos percentuais acima do registrado em fevereiro de 2021.
Pernambuco: Percentual de famílias, segundo as situações de endividamento (valores em % do total de famílias) – janeiro/2021 a fevereiro/2022
A taxa de desocupação elevada (19%) e a queda do rendimento médio real (-12% entre o primeiro e quarto trimestre de 2021) provocado pela inflação, são dois dos principais fatores para a alta do endividamento no estado. Nessa conjuntura, muitas famílias acabam recorrendo a meios de pagamento como o cartão de crédito e o cheque especial, que afetam o consumo nos meses seguintes.
Por outro lado, a perspectiva de que as taxas de juros continuem em ascensão tende frear um pouco o aumento de outros vetores de endividamento, como os empréstimos pessoais e financiamentos. O ano de 2022 já se inicia com a necessidade de controlar as dívidas, por que os preços ao consumidor devem continuar crescendo ao longo desse primeiro semestre e as condições de crédito devem ficar mais difíceis em função do aumento da Selic. Por esse motivo, o percentual de inadimplentes também está em alta e tende a se manter elevado nesse início de ano, em torno de 33%.
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