*Por Ademilson Saraiva, da Assessoria Econômica da Fecomércio PE
O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), calculado pela CNC, é um indicador que acompanha as tendências no comportamento de compra pelas famílias no curto prazo, baseado em suas perspectivas sobre o mercado de trabalho, renda e acesso a crédito. Os índices são mensurados de acordo com a situação das famílias com relação ao ano anterior e as suas expectativas para os próximos seis meses, variando de 0 a 200 pontos, indicando: insatisfação, ou pessimismo, quando abaixo de 100 ponto; satisfação, ou otimismo, quando acima de 100 pontos e, portanto, de propensão ao aumento do consumo; indiferença quanto aos próximos meses quando no patamar de 100 pontos.
ICF CONSOLIDADO
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias pernambucanas (ICF-PE) registrou 76,9 pontos em janeiro, expressando estabilidade na propensão das famílias quanto ao consumo nos próximos meses. Em dezembro, o índice havia registrado crescimento de 2,5% (de 74,6 para 76,5 pontos), mas desacelerou em janeiro, crescendo apenas 0,6%.
Na comparação anual, o ICF-PE cresceu 13,5%, com relação a janeiro de 2021, quando se encontrava em 67,4 pontos. Esse avanço denota um ambiente de confiança um pouco melhor para as famílias no início de 2022 – diferente do início do ano anterior, em meio ao avanço da segunda onda de Covid-19 e com a vacinação ainda muito lenta –, mas que ainda expressa um baixo ímpeto de consumo, estado o índice 23 pontos abaixo do patamar de indiferença (100 pontos).
A melhora recente do indicador tem estreita relação com o avanço da imunização, principalmente após a ampliação das faixas etárias atendidas pela vacinação. Embora os últimos resultados do desempenho no mercado de trabalho formal sejam favoráveis, há ainda um grande contingente de desocupados, especialmente os oriundos do setor de serviços.
A recolocação no mercado de trabalho ou a opção pela informalidade, comumente, ocorrem com um rendimento médio menor, fator que em si já é capaz de impactar a capacidade de consumo no curto prazo. Quando se soma a esse desequilíbrio a instabilidade na renda gerada pelo aumento constante de preços ocorrido em 2021, justifica-se a incerteza das famílias no início de 2022. Esses são aspectos evidenciados pelos componentes do ICF, a seguir.
EMPREGO ATUAL
A avaliação das famílias com relação à estabilidade no emprego atual teve alta de 3,0%, saindo de 84,9 para 87,5 pontos. Esse foi o segundo avanço significativo do indicador desde abril de 2021 – em dezembro, a avaliação sobre a segurança no emprego atual já registrara crescimento de 2,7% (de 82,7 para 84,9 pontos). Na comparação com janeiro de 2021, esse componente do ICF avançou 2,5%.
Esse avanço expressa a percepção das famílias de que a imunização abre portas para retomada mais intensa dos serviços, trazendo a sensação de que a concorrência por vagas de emprego pode arrefecer ao longo de 2022. Por outro lado, é importante o indicador ainda se encontra na zona de insatisfação.
Cabe ressaltar que a concretização de um cenário mais favorável requer a conscientização de que a pandemia ainda não acabou e de que é necessário manter os cuidados mínimos de proteção e higienização, de modo a interromper o avanço da variante ômicron enquanto a população não se encontra totalmente imunizada, incluindo as doses de reforço vacinal.
PERSPECTIVA PROFISSIONAL
O componente que investiga a expectativa das famílias quanto à situação futura do emprego teve alta de 5,2% na passagem de dezembro para janeiro, saindo de 71,4 para 75,1 pontos. Na comparação anual, a perspectiva profissional avançou 5,6% com relação a janeiro do ano anterior, quando se encontrava em 67,6 pontos.
RENDA ATUAL
A percepção sobre o nível de renda atual melhorou 1,2%, passando de 88,3 em dezembro para 89,4 pontos em janeiro. Não obstante a perda do poder de compra e do fim do auxílio emergencial – prorrogado para 2021 com valor menor e encerrado em outubro –, as famílias enxergam também uma situação melhor que no início do ano passado (+6,9%), sobretudo por que o mercado de trabalho temporário no final de ano foi mais aquecido que em 2020. Essa visão pode ainda sofrer oscilações ao longo do primeiro semestre, tendo em vista que a renda real deve ser ainda mais pressionada pelo custo da energia elétrica e produtos agropecuários.
COMPRAS A PRAZO E AQUISIÇÃO DE BENS DURÁVEIS
Na contramão da percepção sobre a situação da renda atual, as famílias indicam que as condições de acesso a crédito e compras a prazo se encontram mais difíceis na passagem de dezembro para janeiro, com recuo de 2,9%, saindo de 98,4 para 95,6 pontos.
A recente ascensão da taxa básica de juros e da expectativa para novas elevações ao longo do ano são fatores que explicam essa cautela com as compras a prazo no início de 2022.
Sob a mesma perspectiva, as famílias também apontam uma situação menos favorável para compras de bens duráveis no curto prazo. Na comparação com dezembro, esse componente foi o que apresentou maior recuo, saindo de 71,3 para 64,5 pontos (-9,5%).
CONSUMO ATUAL E PERSPECTIVA DE CONSUMO
A avaliação sobre o nível de consumo atual, embora siga melhorando desde agosto, ainda apresenta o pior resultado entre os componentes do ICF em janeiro de 2022: variação de +3,5% na passagem de dezembro, mas com índice de 61,7 pontos, muito abaixo do patamar de indiferença (100 pontos).
Sobre o consumo no curto prazo, registra-se aumento de 5,6% no componente que avalia a perspectiva de consumo para os próximos seis meses. Entretanto, o indicador índice ainda se observa também abaixo do patamar de indiferença, chegando a 64,5 pontos em janeiro.
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