Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE
O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) Pernambucanas, indicador utilizado para medir a avaliação que os consumidores em Pernambuco fazem sobre aspectos importantes da condição de consumo, como a sua capacidade de consumo, atual e de curto prazo, nível de renda doméstico, segurança no emprego e qualidade de consumo, presente e futuro, apresentou queda após cinco altas consecutivas em abril de 2021, resultado não surpreendente e que reflete o crítico momento atual em relação à geração de renda para as famílias.
Vale destacar que o rendimento real da população vem recuando devido a um processo inflacionário que vem atuando nos preços desde o final de 2020, além disso o mercado de trabalho ainda não reagiu de maneira forte o suficiente para devolver a confiança em consumir perdida após a pandemia da covid-19 no Estado de Pernambuco. Lembrando também que grande parte dos programas emergenciais ainda não voltaram à ativa, mesmo com a elevação dos números de infecção e morte, aumentando os impactos negativos da segunda onda na economia.
É importante reforçar também que o ICF-PE serve como um antecedente do consumo, a partir do ponto de vista dos consumidores. Desta forma, crescimentos (redução) no indicador significam um aumento (queda) no consumo das famílias para o período indicado, podendo ser utilizado pelo mercado para se planejar, antecipando os movimentos de consumo das famílias pernambucanas.
A queda na intenção passa a incorporar questões conjunturais graves na pandemia, como o aumento das desigualdades. Grande parte da população, incluindo a nova classe média, passou a ter quedas no seu rendimento. Essa situação vem obrigando as famílias a readequar o orçamento para o nível de consumo real diante de uma renda menor, puxando os índices de consumo para baixo.
A inflação vem apertando o orçamento mês a mês, com destaque negativo para a escalada de preços do grupo de “Alimentação e Bebidas”, que agrava a situação de queda na renda disponível, pois são produtos essenciais e de consumo praticamente diário. Além disso, o movimento dos preços também pode ser observado em outros setores, como o de “Transportes”, “Artigos de residência” e “Habitação”. A inflação em março atingiu os 6,1% no acumulado em 12 meses, maior valor neste tipo de indicador desde 2017. Esse valor também é superior ao teto da meta, sendo que a última vez que isso ocorreu foi em novembro de 2016, em um ano que a inflação rompeu os dois dígitos.
Nem mesmo o auxílio emergencial fará tanta diferença este ano, lembrando que o projeto em 2020 foi o responsável pela manutenção do consumo das famílias, em especial os mais vulneráveis, além de gerar desdobramentos positivos em parte das atividades do varejo. O recurso emergencial destinado à população vulnerável e aos informais injetou na economia pernambucana um valor próximo a R$ 17 bilhões de reais, já o de 2021 tem uma projeção de injeção próxima de 15% do valor de 2020, limitando assim os seus benefícios para famílias e o setor produtivo.
O mercado de trabalho, apesar de recuperação parcial dos desligamentos ocorridos em 2020, ainda não apresenta velocidade para amenizar a queda da renda. Segundo o Novo Caged, o estado de Pernambuco acumula em 2021, entre janeiro e fevereiro, geração de 3.140 vagas, número positivo, mas que ainda é inferior ao saldo negativo de 5.828 vagas de 2020.
É importante lembrar que a pesquisa para o mês de abril foi realizada nos últimos 10 dias de março, período em que as famílias passaram com as medidas restritivas do governo de Pernambuco. Desta forma, os impactos de tais restrições puxam para baixo a avaliação de consumo no mês de abril. Desta forma, é possível que o indicador volte a apresentar melhora em maio, visto que o mês de abril passou por um relaxamento das medidas de isolamento e para grande parte dos setores produtivos.
O indicador atingiu os 79,7 pontos, ante 70,6 de março e 83,5 do mesmo período do ano anterior. Na análise por indicadores, verifica-se que as maiores quedas ocorreram na avaliação em relação a perspectiva profissional, fruto de um mercado de trabalho ainda muito tímido na geração de vagas e em relação a perspectiva de consumo, refletindo a queda na renda das famílias diante de um quadro de desemprego elevado e da falta de socorro das esferas federais. Para o mês de maio, a expectativa é de alta na intenção de consumo das famílias, visto que o mês possui a segunda data mais importante para o calendário de consumo do comércio, que é o Dia das Mães.
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