Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio PE
O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) de Pernambuco, que mede a percepção que os empresários do comércio têm sobre o nível atual e futuro de propensão a investir em curto e médio prazo, voltou a cair, mas continua na zona de avaliação positiva. O movimento já começa a refletir as dificuldades sentidas pelos estabelecimentos comerciais no terceiro mês do ano, puxado pela piora no quadro inflacionário, reduzindo a renda disponível das famílias e, consequentemente, a capacidade de consumo, piora nos números de infecções graves, criando um ambiente capaz de colapsar o setor de saúde, retorno das medidas de restrição, impondo perda no faturamento dos negócios considerados não essenciais, além de um ritmo de vacinação extremamente lento, adiando ainda mais a recuperação da economia, que, atualmente, está atrelada na velocidade de pessoas imunizadas no país.
O ICEC recuou -0,8% entre fevereiro e março, saindo de 103,1 para 102,3 pontos, puxado pelo ritmo extremamente lento da vacinação contra a covid-19 e pelo retorno das restrições mais duras impostas a famílias e empresas, aumentando o risco de mais um ano com queda na atividade econômica, que se desdobra em elevação de números de estabelecimentos fechados e de alta no desemprego. Outro destaque importante é que, neste ano, nem mesmo o auxílio emergencial será capaz de socorrer parte do comércio, como ocorreu em 2020, visto que até o momento o valor pago é muito inferior ao do ano passado, limitando assim a força da ajuda dada as famílias e aos negócios.
Vale destacar que o auxílio emergencial entre abril de 2020 e janeiro de 2021 injetou na economia pernambucana aproximadamente R$ 17 bilhões de reais, contribuindo para que quase metade das atividades do varejo apresentassem um surpreendente resultado positivo. Entre as atividades que mais foram beneficiadas estão os eletrodomésticos, os móveis, os medicamentos, os materiais de construção, os hiper e os supermercados. Todos refletindo a necessidade destes produtos para as famílias que permanecem por bem mais tempo em suas residências, seja trabalhando, estudando ou apenas seguindo a recomendação do isolamento social.
Sem falar que os governos estaduais vêm assumindo certo protagonismo na luta contra a atual pandemia, tomando as medidas necessárias para a redução do número de infecções, adotando medidas de minimização de impacto para os negócios, como adiamento do pagamento do ICMS, renegociação das parcelas atrasadas, criação de planos para concessão de crédito subsidiado e negociação direta para aquisição de vacinas com o objetivo de acelerar a vacinação, cobrindo parte do papel que foi feito pelo governo federal em 2020. Mas, estas medidas não apresentam retorno imediato como foram as ações adotadas a nível nacional, fazendo com que a confiança ainda recue de maneira mais forte.
Lembrando também que a atividade econômica continua apresentando desaceleração, após o momento de recuperação acentuado no último trimestre de 2020, confirmando que a economia deve retornar ao cenário de queda no nível de atividade em praticamente todos os setores produtivos, com destaque para aqueles que são ligados ao fluxo de pessoas e a interação com os consumidores de maneira mais direta, como o comércio, os serviços e o setor de turismo.
Analisando os subindicadores da pesquisa, verificam-se que as quedas foram concentradas nos itens que avaliam as condições correntes da empresa, do setor e da economia, comprovando que o empresário pernambucano já sente de maneira real os impactos negativos do atual momento. Vale ressaltar que a expectativa é de que estas avaliações ainda demonstrem deterioração no próximo mês, visto que a pesquisa irá captar de maneira mais significativa as consequências da adoção de medidas mais rígidas no funcionamento dos estabelecimentos e do deslocamento das pessoas.
Por outro lado, a avaliação em relação à expectativa da economia, do setor e da empresa apresentaram variação nula, o que reflete ainda uma espera para a precificação de ações realizadas atualmente que interferiram no setor de comércio. É provável que se espere o prazo total de atuação destas medidas para estimar os danos deste período.
Para o próximo mês, espera-se que a confiança continue com variação positiva e, assim como o resultado nacional, continue acima dos 100 pontos, visto que, no mês de abril, existe uma probabilidade maior da aceleração no plano de vacinação com aquisição de novas doses. Além disso, a comemoração da Páscoa é outro ponto que ainda pode segurar a confiança do empresário no nível positivo do indicador.
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