- Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE
A inflação da Região Metropolitana do Recife (RMR), medida através do IPCA pelo IBGE, mostrou alta de 0,50% em janeiro ante a variação de 1,60% verificada no mês anterior. Apesar da desaceleração entre os dois últimos meses, o resultado foi superior ao mesmo período de 2020, quando a taxa apresentou crescimento de 0,30%.
Esta é a maior variação entre os meses de janeiro desde 2016, quando a inflação chegou a 1,32%. Vale lembrar que este valor foi puxado pelas autorizações de reajustes nos preços administrados, quando na época foram autorizados aumentos de passagem de ônibus, energia elétrica, combustíveis, entre outros.
É importante lembrar que o comportamento de desaceleração já era esperado, visto que a inflação verificada, no final do ano passado, estava recebendo mais influência do aquecimento da demanda com injeções significativas de recursos voltados à parte das famílias, com o fim destes projetos a demanda recuaria naturalmente e pressionaria de maneira menos intensa a inflação dos preços livres.
Um dos grandes responsáveis pela aceleração inflacionária verificada no segundo semestre de 2020 foi o auxílio emergencial. Lembrando que o auxílio foi um projeto voltado à distribuição de renda para famílias em vulnerabilidade e informais durante a pandemia, que a nível nacional injetou quase R$ 300 bilhões.
O estado de Pernambuco foi o quinto que mais recebeu recursos, superando os R$ 10 bilhões, aumentando o poder de consumo de grande parte dessas famílias e puxando os preços dos produtos da cesta básica devido a um maior consumo por parte da população. Além disso, questões cambiais e problemas na cadeia logística aumentaram o custo de alguns produtos devido a importação mais cara ou a falta deles no mercado.
O grupo que mais pressionou o índice em janeiro foi “Alimentação e bebidas”, com alta de 1,55%, desacelerando de maneira modesta em relação a dezembro de 2020 (1,67%). Porém, é importante lembrar que o crescimento significativo dos preços do grupo, no último mês do ano especificamente, foi ocasionado pelo aumento do poder de consumo das famílias devido a programas de transferências de renda. Os componentes da alimentação no domicílio foram os grandes responsáveis pela alta dos preços, em especial frutas e verduras consumidas no dia, como melão (18,91%), batata-inglesa (15,75%), cebola (11,80%), mandioca (11,71%) e coentro (10,42%).
Desta forma, a inflação atinge, principalmente, os de menor rendimento, que têm grande parte do orçamento voltado para o consumo de bens essenciais, como os de alimentação. O grupo contribuiu com 0.36 pontos percentuais, ante 0.39 do mês anterior, continuando responsável por grande parte da variação do IPCA, que foi amenizado pela deflação e variação modesta mensal de outros grupos. Do outro lado, o grupo “Habitação” apresentou queda brusca em seu nível geral de preços, puxado pela alteração no sistema de bandeira tarifária, que saiu da vermelho II para a amarela, deixando o custo da energia mais barato do que o verificado em dezembro.
É importante destacar que, enquanto o cenário do início de 2020 era de ações voltadas a aceleração da inflação com aquecimento da demanda, devido a uma conjuntura de crescimento da renda em ritmo lento, o início de 2021 tem características bem diferentes. O ano deve apresentar reajustes mais significativos devido a prejuízos sentidos por parte dos serviços ao decorrer do ano anterior, principalmente os serviços ajustados por índices de preços, como o aluguel que é corrigido pelo o IGP-M. Desta forma, espera-se que os preços ainda continuem apresentando nível mais elevado do que o verificado nos primeiros meses do ano anterior.
Outro destaque importante e que contribuiu para a inflação não ser ainda mais alta foi a mudança na ponderação dos grupos, visto que a nova estrutura reflete as mudanças no padrão de consumo das populações-objetivo captadas pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, em substituição à estrutura atual derivada da POF 2008-2009, que vigorou por 96 meses (de janeiro de 2012 a dezembro de 2019), desta forma grupos como “Alimentação e bebidas” e “Habitação” perderam representatividade enquanto outros como “Transportes” e “Comunicação” ganharam. O Banco Central estima que a distribuição de peso atual terá um impacto aproximado de -0.3 no nível geral de preços, o que implica já em uma inflação menor devido a nova maneira de cálculo.
Os cinco produtos com maior variação positiva em janeiro de 2021 para a RMR foram o melão (18,91%), batata-inglesa (15,75%), cebola (11,80%), mandioca (11,71%) e coentro (10,42%). Na outra ponta, os produtos que tiveram o preço apresentando variação negativa foram o transporte por aplicativo (-27,32%), passagem aérea (-14,70%), artigos de maquiagem (-7,70%), uva (-6,42%) e o transporte público (-5,72%).
O IPCA é calculado pelo IBGE, desde 1980, refere-se às famílias com rendimento monetário de 01 a 40 salários-mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande e Brasília.
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