Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE
O percentual de endividados, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) pernambucano, mais uma vez mostra movimento na direção contrária do nacional e recua em dezembro, após duas altas consecutivas. O percentual de famílias endividadas atingiu os 76,7%, ante 77,4% do mês de novembro.
É importante destacar que o movimento de queda não era esperado, visto que o último mês do ano traz incentivos para um maior nível de consumo, devido à comemoração do Natal e do Ano Novo, além de coincidir com o pagamento da segunda parcela do décimo terceiro salário. Apesar desta queda mensal, este é o maior percentual de endividados desde 2010 quando o indicador atingiu 79,8%.
Vale destacar também que a pesquisa de sondagem de opinião, realizada pelo Instituto Fecomércio, apontou crescimento na pretensão de comemorar as últimas festividades do ano quando comparado com as pesquisas anteriores, como a Black Friday e a do Dia das Crianças de 2020, mas a maioria dos pernambucanos respondeu que comemoraria de uma maneira mais barata, em casa com a família, e pagando à vista, em dinheiro ou no débito, o que pode ter favorecido a queda do endividamento.
O Natal, principal data do calendário de consumo dos brasileiros e a mais importante para o varejo em termos de faturamento, contribuiu de maneira significativa para que a queda do número de endividados não fosse maior, visto que, no período, existe um aumento tradicional do consumo e, consequentemente, da manutenção de parte dos endividados. A data carrega um apelo emocional forte, o que acaba contribuindo para um maior nível de compras da população.
A possibilidade de uma nova onda de infecção de covid-19 também pode ter contribuído para que o endividamento caísse, visto que o cenário acaba elevando o comportamento conservador das famílias e freando parte do consumo, principalmente das compras financiadas, já que as incertezas para a economia no curto e médio prazo voltam a se elevar.
Outro ponto importante a ser reforçado na queda do endividamento é o pagamento da segunda parcela do 13º salário, que pode ter sido usada por parcela relevante dos que recebem o benefício para abater dívidas. É importante lembrar que o nível de consumo subiu, assim como o endividamento em novembro, período do pagamento da primeira parcela para grande parte das pessoas. Já a segunda parcela pode ter sido usada com mais cautela, voltada a pagar dívidas para um início de ano menos restrito em termos de orçamento familiar.
A possibilidade do fim do auxílio emergencial também contribuiu para o movimento de queda do endividamento, visto que aumentou o não recebimento do recurso e aumentará, a partir de janeiro, a restrição orçamentária das famílias, o que acaba retirando os incentivos do consumo financiando por crédito. É importante lembrar que o programa injetou mais de R$ 10,7 bilhões na economia pernambucana entre abril e outubro de 2020, o que possibilitou a manutenção do consumo das famílias, contribuiu para amenizar a queda da massa salarial e segurou parte da confiança da população, principalmente daqueles que estavam alocados na informalidade dos que estavam em vulnerabilidade social.
O Estado de Pernambuco foi o quinto que mais recebeu recursos do programa, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, refletindo o tamanho da importância do projeto para a economia pernambucana durante os meses de restrições mais severas.
O mercado de trabalho também é um dos vetores de redução do endividamento, visto que o elevado nível de desemprego já cria restrição de dívidas. Além disso, a sazonalidade de maiores níveis de demissão, no início do ano, devido ao fim de contratos temporários, reestruturação de equipes e final de safra de produtos como a cana-de-açúcar, também atua como redutor de incentivos. Um cenário mais adverso à frente e a possibilidade de não estar empregados e sem auxílios dados pelo governo podem ter contribuído para parte das famílias focarem na redução de dívidas.
Em números, o percentual de 76,7% equivale a 398.820 famílias endividadas, redução de 3.142 lares em um mês. Já em relação ao mesmo período de 2019, houve uma alta de 20.096 famílias. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 28,0%, queda em relação a novembro e quando comparado a novembro do ano anterior, que registraram percentuais de 29,8% e 29,4%, respectivamente. O movimento é positivo, pois o percentual de famílias nesta situação recuou pela quarta vez consecutiva, o que comprova que parte das famílias se encontra com comportamento mais conservador e vem trabalhando em um menor ritmo de consumo e de ajuste em suas finanças. Atualmente, no estado, 144.090 famílias estão com alguma conta em atraso.
Já a parcela da população com a situação mais crítica, que é aquela que informa não ter mais condições de pagar as suas dívidas, mostrou percentual de 11,3%, o que corresponde a 58.085 mil famílias inadimplentes. E, como no grupo anterior, este grupo apresentou a segunda queda consecutiva no número de famílias nesta situação, com queda mensal de 6.845 lares. Já na comparação anual, o percentual de famílias inadimplentes mostrou leve alta e teve aumento de 539 lares.
Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado continua sendo o cartão de crédito, atingindo 95,1%, apresentando crescimento quando comparado a novembro, onde o percentual era de 93,7%, seguido pelo endividamento com carnês, que representa 22,1%, ante 27,2% do mês anterior, o que reflete uma desaceleração do consumo daqueles que estão sem acessar créditos mais baratos como o cartão. A maioria das famílias endividadas (55,7%) informa também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda – o comprometimento médio em dezembro atingiu 28,8% da renda.
Para o mês de janeiro, espera-se um retorno da elevação do endividamento, visto que o mês apresenta maiores restrições do orçamento, como o pagamento de impostos, reajustes dos serviços, compra de material escolar, além de uma fatura já elevada do consumo de final de ano.
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