A proporção de endividados na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) pernambucano mostra movimento na direção oposta à do nacional e recua após duas altas consecutivas. O percentual de famílias endividadas em julho atingiu os 73,9%, recuando em relação a junho, que estava em 75,2%. Esta é a maior taxa de endividados para os meses de julho, desde 2011, quando o resultado atingiu os 81,3%.
O comportamento pode estar sendo influenciado pelo número de demissões, que, no mercado de trabalho formal, continua intenso, fazendo com que muitos utilizem as verbas indenizatórias para quitação de dívidas, pois o ambiente de incertezas em relação à recuperação da economia e, consequentemente, do retorno ao mercado de trabalho é alto e faz com que muitas famílias priorizem a quitação das dívidas.
Em números, o percentual de 73,9% equivale a 379.737 famílias endividadas, queda de 6.772 lares em um mês, já em relação ao mesmo período de 2019 houve uma alta de 27.496 famílias. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 30,4%, queda em relação a junho e crescimento quando comparado a julho do ano anterior, que registraram percentual de 31,4% e 28,9%, respectivamente.
É importante lembrar que estas famílias já apresentavam maior dificuldade no pagamento de suas dívidas, com orçamento mais apertado, aumentando as dificuldades de honrar todos os pagamentos em um período de maior restrição devido à pandemia da Covid-19 e, principalmente, com um mercado ainda apresentando deterioração. Atualmente, no estado, 156.080 famílias estão com alguma conta em atraso.
Já a parcela da população com a situação mais crítica, que são aquelas que informam não ter mais condições de pagar as suas dívidas, mostrou percentual de 12,0%, o que corresponde a 61.790 mil famílias inadimplentes. Diferente dos dois primeiros, este grupo apresentou queda no número de famílias pelo segundo mês consecutivo. Em relação ao mês anterior, foram 12.531 lares que conseguiram sair desta situação mais crítica em relação a dívidas, já na comparação anual o percentual de famílias inadimplentes subiu e teve recuo de 1.467. A facilidade de renegociação das dívidas criadas pelas instituições financeiras como um dos meios de reduzir os transtornos da pandemia para os consumidores é um dos pontos que contribuem para amenizar o percentual de inadimplentes.
Analisando o nível de endividamento, verifica-se que os mais pobres são os que mais sofrem, visto que foram os mais afetados com a paralisação do setor produtivo, com a maioria das famílias informando estar muito endividadas. Já as famílias de rendimento acima de 10 salários mínimos tem perfil oposto, com a maioria informando estar pouco endividada. Os de maior rendimento, apesar de também ter sido impactado negativamente, como aqueles que possuem estabelecimentos que não puderam funcionar durante o isolamento, foram mais beneficiados em relação ao mercado de trabalho, pois grande parte das atividades realizadas pela população deste grupo teve continuidade com a realização remota.
Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado continua sendo o cartão de crédito, atingindo 92,8%, seguido pelo endividamento com carnês, que apresentou crescimento e atingiu os 23,3%. Ambos os meios de pagamento refletem a dificuldade que as famílias estão apresentando em seus orçamentos, o que obriga muitos a recorrer ao financiamento para manter o nível de consumo.
A maioria das famílias endividadas informa também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda, valor considerado preocupante, visto que, após o pagamento das despesas correntes, como energia elétrica, água e esgoto, telefone, internet e alimentação, grande parte das famílias pode não apresentar recursos que sobrem para investir, limitando a capacidade do crescimento familiar.
Para o mês de agosto, espera-se um retorno da elevação no endividamento das famílias, isto porque o próximo mês possui data importante, como o Dia dos Pais, que, mesmo não apresentando comemoração a nível de anos anteriores, tende a apresentar um consumo mais elevado das famílias, visto que, nas datas anteriores, não tiveram consumo em nível considerado normal devido à quarentena. Pesquisa recente do Instituto Fecomércio, realizada com 1.152 consumidores, aponta uma alta na intensão de comemoração quando comparado com as datas anteriores, com o pagamento apontando pela maioria sendo realizado através do crédito, outro ponto para esperar um aumento do endividamento das famílias em agosto.
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