Conforme esperado, o percentual de endividados na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) pernambucano mostra movimento na mesma direção que a nacional e cresce pelo segundo mês consecutivo. O percentual de famílias endividadas em junho atingiu os 75,2%, subindo em relação a maio, que estava em 74,0%. Esta é a maior taxa de endividados desde setembro de 2015, quando o resultado atingiu os 75,2%, já para os meses de junho este é o maior valor desde a criação da pesquisa, iniciada em 2010.
A atual conjuntura crítica devido ao combate da pandemia da Covid-19 em todo o mundo vem criando desdobramentos extremamente negativos para a economia de maneira geral. Um dos principais pontos é a paralisação do setor produtivo, impondo queda no faturamento dos estabelecimentos e consequentemente um planejamento de cortes de despesas para sobrevivência, que inevitavelmente atinge a população ocupada. O desemprego cresce a cada semana, reduzindo o poder de compras das famílias e aumentando a restrição orçamentária, fazendo com que muitos percam as condições de manter o consumo de itens essenciais, pagamentos de despesas correntes e financeiras.
O consumo ainda vem sendo concentrado em itens essenciais, isto devido à manutenção de parte das restrições adotadas pelo Governo para conter a velocidade da epidemia da Covid-19, além do incentivo criado pela piora em variáveis importantes, como a taxa de desemprego e a renda das famílias. É importante destacar também que o consumo pela internet, iniciado por parte da população por não conseguir comprar de maneira física, já que o comércio tradicional e os shoppings foram temporariamente impedidos de funcionar, também é um dos motores do aumento do endividamento nesses últimos meses.
Outro fato importante é que parte da população por questões de saúde, envolvendo principalmente a ansiedade criada pelos novos hábitos, vem consumindo de maneira mais forte, utilizando o crédito e assim elevando o endividamento no período. A conjuntura se desenha extremamente difícil para o pós pandemia, o início do novo normal, expressão adotada por muitos por acreditar em uma mudança que não será temporária em relação aos costumes, será com parte da população desempregada, endividada e com outras restrições que impedirão as famílias de continuar consumindo, criando assim um cenário que trará lentidão na recuperação de setores ligados à confiança das famílias, como o comércio e os serviços, o que também reduz o ritmo na melhora das condições da renda da população, visto que o período difícil atrasa os investimentos e a geração de empregos formais e informais, assim como a capacidade de pagamento das dívidas e da manutenção do consumo.
Em números, o percentual de 75,2% equivale a 386.509 famílias endividadas, alta de 6.304 lares em um mês. Já em relação ao mesmo período de 2019, houve uma alta de 30.953 famílias. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 31,4%, alta em relação a abril e quando comparado a maio do ano anterior, que registraram percentual de 31,1% e 28,0%, respectivamente. É importante lembrar que estas famílias já apresentavam maior dificuldade no pagamento de suas dívidas, com orçamento mais apertado, aumentando as dificuldades de honrar todos os pagamentos em um período de maior restrição devido à pandemia da Covid-19. Atualmente, no estado 161.408 famílias estão com alguma conta em atraso.
Já a parcela da população com situação mais crítica, que são aquelas que informam não ter mais condições de pagar as suas dívidas, mostrou percentual de 14,5%, o que corresponde a 74.321 mil famílias inadimplentes. Diferente dos dois primeiros, este grupo apresentou queda no número de famílias nesta situação em relação ao mês anterior, com redução mensal de 7.044. Já na comparação anual, o percentual de famílias inadimplentes subiu e teve acréscimo de 14.179 lares. É provável que muitos dos demitidos no período tenham utilizado os recursos das indenizações trabalhistas para abater parte das dívidas ou negociá-las, saindo assim da situação de inadimplência.
Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado continua sendo o cartão de crédito, atingindo 92,2%, seguido pelo endividamento com carnês, que representa 16,5%. A maioria das famílias endividadas informam também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda, valor considerado preocupante, visto que, após o pagamento das despesas correntes, grande parte das famílias pode não apresentar recursos para investir, limitando a capacidade do crescimento familiar.
Leave a Comment