Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
Segundo o IBGE, através da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), o volume de serviços pernambucano mostrou variação negativa no indicador mês, mês atual em relação ao mês anterior, caindo 20,56% em abril. O valor é superior ao resultado nacional, que mostrou queda de 11,71%, superou o desempenho do mês anterior (-8,6 %), além de ser o maior valor para os meses de abril, desde 2011, quando iniciou a série histórica da pesquisa de serviços.
A queda não surpreende, pois, abril foi o primeiro mês que conseguiu captar a paralisação do setor produtivo de maneira total, visto que as medidas de isolamento social e os decretos com a proibição do funcionamento do comércio não essencial atuaram nos 30 dias do mês. Desta forma, já se esperava uma queda bem mais intensa que o mês de março.
Além disso, outros indicadores já mostravam desempenho negativo nos dois meses anteriores, como o volume de vendas do comércio, o endividamento das famílias, piora no mercado de trabalho e desempenho fraco da indústria. O resultado reflete o cenário de piora na confiança das famílias e dos empresários em relação ao consumo e aos investimentos, onde grande parte dos agentes permanecem com elevada prudência devido à conjuntura extremamente adversa.
Com os significativos recuos das vendas do varejo no Estado, além de um setor industrial apresentando queda na produção e elevada capacidade ociosa, é provável que a deterioração do desempenho do setor de serviços seja ainda mais intensa no segundo trimestre de 2020. Os resultados negativos verificados no primeiro quarto mês do ano confirma a perspectiva econômica crítica projetada para o desempenho de praticamente todos os setores, inclusive o de serviços, nos próximos meses.
Vale destacar também que ainda não se verificou resposta do setor produtivo às políticas adotadas pelas esferas governamentais em relação à redução dos impactos negativos da Covid-19. O crédito disponibilizado ainda não se mostrou capaz de reverter o cenário negativo da atualidade, visto que a maioria dos empresários que solicitou o recurso teve o pedido negado. Além disso, outras medidas de igual objetivo também não tiveram forças para tornar o horizonte empresarial menos negativo, como as ações em relação à burocracia e tributação. A única medida que teve um nível de adesão significativo e serviu para reduzir o peso das despesas, foram as voltadas a questão do emprego, com o governo assumindo parte dos custos salariais das pessoas que tiveram suspensão do contrato e redução de carga horária.
Já o indicador mensal, mês atual em relação ao mesmo mês do ano anterior, inicia uma sequência de recuos consecutivos, com queda de 27,2%, em abril, mostrando aceleração dos prejuízos ante os -5,4% de março, criando um período de piora diante do quadro já crítico em que passa o setor nos últimos anos, onde o desempenho oscila entre período de recuperação e deterioração.
Em relação aos tipos de serviços, o destaque negativo mais uma vez se encontra no desempenho dos “Serviços prestados às famílias”, duramente afetado pelo quadro de consumo lento e em nível extremamente baixo, devido ao endividamento elevado, desemprego em crescimento e confiança ligada ao consumo cada vez menor. A variação para este tipo de serviço foi de -74,9%, em abril, valor que pode ser ainda maior no mês seguinte devido à piora nestas variáveis citadas inicialmente.
O segundo maior recuo ficou com os “Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios” devido à paralisação dos setores produtivos, como o comércio e a indústria, menor dinamismo em termos de exportação e importação, além de uma queda em relação à demanda pelos transportes das famílias. Este último refletiu quedas imensas no setor de viagens aéreas com alto percentual de cancelamento de voos.
Os “Serviços profissionais, administrativos e complementares”, que possuem como principais demandantes os demais setores, como Indústria e Comércio, apresentaram queda de 15,7%, refletindo assim uma piora nas expectativas do empresariado destes setores, demandando um volume bem menor dos investimentos ligados aos serviços. É importante destacar que esse tipo de serviço engloba os técnico-especializados, que são mais caros por apresentar uma produtividade maior, além disso alguns tipos podem ser feitos de maneira remota, o que explica um recuo em menor proporção que os dois primeiros.
A queda menos intensa foi verificada nos “Serviços de informação e comunicação”, visto que este tipo de serviço apresentou uma resistência maior em relação a cortes, pois, atualmente, grande parte das empresas precisa criar um canal de comunicação com seus parceiros, criando assim uma necessidade maior e evitando cortes mais intensos. Outro ponto é que este serviço também vem sendo usado de maneira mais forte pelo setor público, visando uma comunicação mais eficiente em relação às ações adotadas para a luta contra a Covid-19 no estado de Pernambuco.
Por fim, o setor de turismo em Pernambuco continua sendo fortemente castigado. As atividades turísticas caíram 61,7% no indicador mês, o que reflete uma continuidade da demanda retraída para o turismo no Estado dos consumidores nacionais e internacionais, principalmente porque o estado apresenta altos números de infectados e acaba incentivando ainda mais os processos de cancelamento.
No comparativo mensal, o setor mostrou variação negativa de 74,9%, resultado mais deteriorado que o nacional (-67,9%). O turismo vem sendo uma das atividades que mais sofrem com o cenário de pandemia, o que se cria uma paralisação em praticamente toda a cadeia produtiva. Atualmente, o volume das atividades turística acumula -6,5% em 12 meses e -25,01% no ano.
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