Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume das vendas do varejo pernambucano voltou a mostrar queda, apresentando mais um recuso significativo comparado ao mês anterior. A taxa mostrou variação negativa de 16,53% no indicador mês, refletindo assim a intensidade dos impactos negativos que atingem o varejo nos últimos meses.
É importante destacar que a variação negativa no quarto mês do ano tem reflexos fortes da atual conjuntura imposta pela pandemia da Covid-19, o que acabou desacelerando o consumo das famílias e derrubando as vendas do setor durante este período. Além disso, a política de incentivo ao consumo do governo federal, que injetou recursos na população mais pobre através do auxílio emergencial, não consegue amenizar a queda na maioria dos segmentos, atuando apenas nas atividades ligadas a vendas de itens essenciais, como hiper e supermercados, medicamentos e higiene pessoal.
Destaco também que o mês de abril foi o primeiro mês que conseguiu captar a paralisação do comércio de maneira total, visto que as medidas de isolamento social e os decretos com a proibição do funcionamento do comércio não essencial atuaram nos 30 dias do mês. Desta forma, já se esperava uma queda superior ao mês de março, quando as ações foram impostas apenas nos últimos dias do mês e ainda conseguiram derrubar as vendas em 6,2%.
Mais uma vez, o resultado pernambucano ficou bem próximo ao do nacional, que caiu 16,84%, sinalizando uma demanda pernambucana tão desaquecida quanto a média do país. Este é o pior resultado para os meses de abril, desde o início da série, sinalizando que as famílias de fato reduziram o nível de consumo, criando um comportamento conservador e derrubando o desempenho das vendas até mesmo em datas importantes para o comércio. A queda do volume de vendas neste mês também já consegue apontar a continuidade do movimento de retração do consumo para o mês seguinte, onde as medidas atuaram de maneira igual e com o agravante de se ter maiores números de demissões.
É importante destacar que o mercado de trabalho, um dos principais motores do consumo, mostrou deterioração intensa no segundo trimestre do ano. Apesar do IBGE ainda não ter divulgado os números, o comportamento de algumas variáveis, que servem como antecipadoras de alguns dados, já apontam para uma piora significativa. Uma delas é o número de solicitações do seguro desemprego no Estado, que mostrou, nos últimos três meses, uma elevação intensa. Este quadro acaba contribuindo para um pior desempenho das vendas do varejo. Outro ponto importante é que a renda vem caindo com a redução dos ocupados, criando restrições no orçamento familiar e sendo mais um limitador do consumo.
O varejo ampliado pernambucano, setor que agrega todos os índices do varejo mais as atividades de “Veículos, motocicletas, partes e peças” e “Material de construção”, também respondeu de maneira negativa ao atual cenário do consumo das famílias. As vendas no indicador mês caíram 19,33%, apresentando maior intensidade do que o restrito. Lembrando que os dois setores tem como um dos incentivos para o consumo o crédito e a confiança da população aspectos que não apresentam condições positivas atualmente. Quando comparado com o mesmo período do ano anterior, o volume de vendas pernambucano recuou de forma ainda mais intensa, atingido os 22,5% em abril, registrando também o maior recuo da série histórica iniciada em janeiro de 2000.
Os segmentos que mais apresentaram queda em relação ao mesmo período do ano anterior foram “Tecidos, vestuários e calçados”, “Livros jornais e papelaria” e “Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação”, recuando acima dos 60% quando comparado com o mesmo período do ano anterior. O único que não apresentou queda foi “Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumos”, devido a essencialidade do segmento, com variação nula em abril.
O recuo atual sinaliza um cenário bem mais crítico no segundo trimestre de 2020. Isto porque os impactos negativos da covid-19 em Pernambuco atuarão na economia de maneira bem mais intensa. O cenário apresenta piora na questão do investimento, com o setor produtivo ainda criando estratégias de sobrevivência, focando no corte de despesas e em estratégias para manter o estabelecimento vivo e no consumo, com maiores número de desempregados e endividados, limitando ainda mais o poder de consumo das famílias e impondo quedas maiores para setores como o varejo.
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