Conforme esperado, o PIB do primeiro trimestre de 2020 mostrou variação negativa. É importante destacar que a economia desacelerou, mas ainda não reflete a maioria dos impactos negativos da Covid-19 no país, até porque o trimestre encerrou em março, mês em que se iniciou a maioria das decretações de quarentena nos estados.
Desta forma, a queda do PIB também aponta para outras questões importantes e já presentes na economia antes da epidemia ser iniciada no Brasil, que afetavam o consumo das famílias:
1 – Um mercado de trabalho que mostrava recuperação pelo lado da informalidade, dando menor ritmo ao do poder de compras da massa salarial.
2 – Não houve política de incentivo ao consumo no primeiro trimestre. Vale destacar que os últimos três anos deram força ao consumo através de políticas de injeção de recursos, como liberação do FGTS Inativo, PIS e FGTS Ativo.
3 – Confiança das famílias ainda em níveis insatisfatórios, criando um comportamento conservador e desincentivando o consumo.
4 – Redução da taxa básica de juros, não chegando ao consumidor final, o que deixa o crédito ainda caro e restrito.
5 – Endividamento ainda muito elevado, criando restrição orçamentária significativa.
Do lado da oferta, a economia já reflete os impactos negativos do início da paralisação dos setores produtivos. Os setores do comércio e dos serviços apresentaram queda de 1,6% e 0,8%, respectivamente, apontando que o segundo trimestre será ainda mais duro para os dois. É importante lembrar que as condições que limitavam o consumo já contribuíam para que o desempenho do volume do comércio e dos serviços não mostrasse recuperação acelerada. Com a impossibilidade da maioria dos segmentos que atuam nestes setores fechados, os números do segundo trimestres devem ser ainda maiores.
A conjuntura se encontra extremamente adversa para o setor produtivo. Além da redução do consumo das famílias, outras questões como a não suspensão de impostos, crédito ainda caro e burocrático criam ainda mais dificuldades para os empresários. Desta forma, as incertezas crescem e as expectativas se deterioram, adiando as possibilidades de recuperação mais rápida da economia em todo o país.
O adiamento do relaxamento das restrições impostas a setores e famílias tende a criar efeitos mais danosos à economia. A expectativa de queda do PIB em 2020 já passa dos 5%, segundo o relatório Focus, e pode piorar nos próximos meses a depender de como as esferas estaduais e municipais vão tratar da renovação dos decretos voltados ao controle da pandemia.
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