Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) de Pernambuco, que mede a percepção que os empresários do comércio têm sobre o nível atual e futuro de propensão a investir em curto e médio prazo, voltou a mostrar variação mensal negativa de -5,1%, saindo de 105,5 para 105,1 pontos. Esta é a quarta queda consecutiva e já sinaliza que nem mesmo os avanços da tão esperada reforma da previdência estão conseguindo recuperar a confiança dos empresários no primeiro semestre de 2019.
Esta é a menor confiança desde agosto de 2018, quando o indicador estava abaixo dos 100 pontos, indicando alta insatisfação. Vale destacar que em agosto do ano passado a conjuntura era bem mais adversa, com um ambiente eleitoral incerto além de uma paralisação na economia devido à greve dos caminhoneiros ocorrida meses antes. O setor ainda não conseguiu visualizar um ambiente propício à recuperação das vendas ainda este ano, onde o volume de negociação no trimestre imediatamente anterior mostra uma população em ritmo de consumo bastante lento.
A conjuntura econômica ainda não deu sinais de que o ano de 2019 apresente um desempenho superior aos dois últimos anos conforme havia se projetado em janeiro. A expectativa é de um crescimento abaixo de 1% para o país, o que implica em geração de incertezas para quem investe, reduzindo assim o montante de investimentos produtivos que poderiam amenizar a atual situação de paralisia do país. O PIB potencial, produção esperada a partir do uso dos recursos atualmente disponíveis, se encontra bem acima do PIB efetivo, o que implica em uma economia que perde a oportunidade de produzir em um nível mais elevado, abrindo mão de uma maior geração de empregos, renda e desenvolvimento. O Estado de Pernambuco apresenta como um dos principais gargalos o atual mercado de trabalho ainda muito deteriorado, com incapacidade de geração de emprego formal que possa reverter o baixo nível de confiança das famílias, impondo ao setor de comércio resultados cada vez mais negativos, o que obriga os empresários a rever mensalmente as estratégias para o negócio.
É importante frisar que o anúncio do saque do FGTS, a partir de setembro deste ano, além das políticas de renda permanente com a opção do saque no aniversário do correntista além de usar o recurso como garantia de empréstimos ainda serão avaliadas no próximo indicador, visto que o resultado divulgado em julho refere-se à aplicação da pesquisa, nos últimos 10 dias do mês de junho. Desta forma, as políticas voltadas às famílias e ao aquecimento econômico através do consumo pode dar uma perspectiva melhor aos empresários do comércio em relação ao desempenho das vendas no segundo semestre, período que, tradicionalmente, já apresenta um ambiente mais positivo, pois existe uma contratação maior e consequentemente uma geração de renda também mais elevada, nos últimos meses do ano, além da injeção de milhões no comércio local com o 13º salário.
Quando se analisa as avaliações dos empresários, verifica-se que apenas a situação do estoque atual mostrou uma melhora comparada ao mês de junho. Todas as demais avaliações apresentaram recuo, em especial as que medem as condições atuais da economia, da empresa e do setor de comércio. Segundo os empresários, as condições correntes são as que mais conseguem deteriorar a confiança local, refletindo que o período de crise acentuada entre 2015 e 2016 ainda não foi superada, mesmo quase três anos depois, impactando a economia ainda de maneira forte e adiando a recuperação do setor. Além da situação atual, se encontra também na zona de avaliação negativa o nível de investimento do empresariado local, que, em meio a um cenário de marcha lenta, também aloca recursos em âncoras financeiras e evitam as produtivas, visto que o médio prazo ainda não conseguiu se desenhar de maneira positiva que incentive um menor comportamento conservador do setor produtivo.
Por outro lado, as expectativas de longo prazo ainda se encontram na zona positiva de avaliação, o que sugere que, mesmo com a queda de confiança nos últimos seis meses, os empresários ainda confiam que as medidas adotadas pelo governo atual conseguirão criam condições positivas para o ambiente de negócio local. Além disso, a confiança na aprovação de reformas importantes como a da Previdência, que projeta economia perto de 1 trilhão de reais nos próximos dez anos, assim como a Reforma Tributária, servem como âncoras de confiança positiva no longo prazo, visto que o atual quadro fiscal deteriorado tem chances de melhoras significativas nos próximos anos.
Para o próximo mês, se espera uma confiança ainda acima de 100 pontos, refletindo as políticas de incentivo ao consumo anunciadas recentemente assim como a proximidade de uma das importantes datas do comércio que é a comemoração do Dia dos Pais.
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