Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) de Pernambuco, que mede a percepção que os empresários do comércio têm sobre o nível atual e futuro de propensão a investir em curto e médio prazo, voltou a mostrar variação mensal negativa de -6,2%, saindo de 112,5 para 105,5 pontos. Essa é a terceira queda consecutiva e já sinaliza um segundo trimestre, em especial para o setor do comércio, com dificuldades que podem inviabilizar uma recuperação ante ao período anterior.
O volume de vendas do varejo restrito acumula variação negativa entre janeiro e maio, já o ampliado se encontra com variação positiva, mas próxima a zero. Os dados modestos dos demais setores e de variáveis importantes como desemprego, juros e crédito ratificam a existência de uma quebra no ritmo de recuperação da economia, gerando reavaliações constantes das projeções para o desempenho do PIB em 2019.
É importante destacar que o PIB pernambucano do primeiro trimestre, divulgado pela agência Condepe/Fidem, registrou desempenho bem superior ao nacional, com alta de 1,2%, quando comparado com o mesmo período de 2018. Apesar disso, não se percebe reflexos positivos em relação ao consumo das famílias, o que traria um alento a atual situação do setor do Comércio. O que leva a crer que este crescimento é influenciado pela deteriorada base de compara, visto que o PIB do Estado recuou de maneira bem mais forte que o brasileiro nos anos de crise intensa, além de estar sofrendo influência direta do polo automotivo liderado pela FIAT na Mata Norte, sendo uma indústria com elevada produtividade e tendo grande parte da sua produção voltada à exportação.
É importante destacar que o mês de junho trouxe um cenário com maiores dificuldades para a articulação do Governo Federal com o Congresso, o que também pode retirar a confiança dos empresários, visto que uma relação mais distante com os parlamentares pode custar caro ao País com atrasos na aprovação da Reforma da Previdência ou até mesmo uma aprovação com menor força. Importante destacar que a aprovação desta Reforma, em especial, não trará o crescimento econômico, mas pode acelerar o destrave dos investimentos através de um controle maior do endividamento público. Além disso, esta é a menor confiança desde outubro de 2018, época das eleições presidenciais, o que reflete um empresariado que retorna a um período de dúvidas em relação ao futuro da economia.
É importante destacar também que, apesar dos recuos no índice, a confiança dos empresários no Estado ainda continua na zona de avaliação positiva, acima dos 100 pontos, o que ainda configura um crédito do setor produtivo em relação a parte das políticas que estão sendo adotadas pelo atual governo. Todos os tipos de avaliações apresentaram recuo em junho, com a maior queda ficando mais uma vez com a avaliação das condições correntes da economia.
A conjuntura ainda apresenta um ambiente de negócios difícil, puxado pelo recuo do consumo, impactado por um exército de desempregados no Estado, limitados às compras de bens essenciais. Outro ponto que contribuiu para uma piora da confiança foi a piora de variáveis importantes para o consumo, como as taxas de juros às pessoas físicas que mostraram leve alta nos últimos meses, dificultando o acesso ao crédito, além de criar maiores restrições ao consumo de bens duráveis.
A avaliação em relação ao futuro segue o movimento de queda, com o “mercado” reavaliando de maneira constante as projeções para o crescimento da economia brasileira. Entre janeiro e junho, a expectativa saiu de 2% para 0,8%, confirmando as sucessivas baixas da confiança empresarial em uma recuperação mais robusta que nos dois anos anteriores. Ainda não existe um consenso de quando o mercado de trabalho vai começar a responder às políticas de incentivos do atual governo, o que torna ainda mais difícil que o setor do comércio, quase que totalmente dependente do bom nível de consumo das famílias, comece a vislumbrar o retorno às variações do volume de vendas que chegavam aos dois dígitos. Com investimentos mais contidos, o comércio volta a apresentar mais momentos de promoções, visando a melhora nos níveis de estoque, além de aderir a estratégias que possibilitem maiores vendas, como abertura em horários especiais antes mesmo do final do ano.
Apesar desse movimento de desaceleração mensal, a confiança, no comparativo anual, apresentou melhora, crescendo 5,7%, indo de 99,7 em junho de 2018 para 105,5 pontos em junho de 2019. Os maiores crescimentos são verificados nas avaliações correntes, com alta de 15,1% em relação a condição atual da economia, 8,4% na condição atual da empresa e 15,2% em relação à condição atual do comércio. Já as expectativas dos empresários mostraram melhora de 6,9%. Na outra ponta, parte do indicador dos investimentos, como contratação de funcionários e investimento na empresa, sinalizaram uma maior dificuldade quando comparado com o mesmo mês de 2018. O atual nível de demanda não justifica para o comerciante o aumento das equipes nem a transformação de investimentos financeiros, criados para a proteção, em investimentos produtivos.
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