Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) pernambucano mostrou que o número de endividados no Estado apresentou crescimento em agosto de 2018. O percentual foi de 61,8% em julho para 62,2% em agosto, mas é importante lembrar que o comparativo anual aponta para um endividamento em níveis mais controlados no período atual, pois o percentual em agosto de 2017 era de 66,3%. O crescimento do endividamento, no oitavo mês do ano, já era esperado, já que a presença de uma data importante para o calendário de compras da população, que é o Dia dos Pais, possui o poder de aumentar o nível de consumo das famílias. Vale destacar também que a tendência de um aquecimento na demanda foi antecipada pela Pesquisa de Sondagem de Opinião do Instituto Fecomércio-PE que apontou que 8 entre 10 pessoas na Região Metropolitana do Recife (RMR) tinham a intenção de celebrar a data, seja através da compra de presentes, ida a bares e restaurantes, almoços em casa ou viagem. Outro fato importante, que pode ter contribuído para a elevação das dívidas, é a injeção de R$ 871 milhões dos 652 mil trabalhadores pernambucanos que podem sacar o PIS-Pasep, a partir de agosto, com parte da população antecipando compras devido ao conhecimento do valor que tem direito a receber do programa.
O percentual de agosto de 2018 equivale a 315.939 famílias endividadas, 1.900 famílias a mais que em julho de 2018 e uma redução de 18.675 famílias, quando comparado com o mesmo período de 2017. A média de endividamento para Pernambuco mostra, nos últimos meses, um movimento em direção à média nacional, sinalizando que de fato existe uma melhora no comportamento dos pernambucanos em relação à aquisição de dívidas, o que vêm contribuindo para que o perfil do Estado fique mais próximo à média do país. Outro ponto importante é que dos 62,2% de endividados apenas 14,7% informam estar muito endividados, refletindo que parte do consumo atual vem acompanhado de uma nova rotina, onde a análise do impacto da aquisição da nova dívida no orçamento familiar apresenta um grau de importância superior aos anos anteriores.
Os lares que já informam ter dívidas em atraso mostraram modesta piora, saindo de 26,5% no mês anterior para 26,6% em agosto de 2018. O percentual corresponde a 135.142 famílias, alta de 653 lares em um mês e queda de 16.241 lares no período de um ano. O mesmo comportamento foi verificado no grupo que se encontra em situação mais crítica, que são aqueles que informam não ter mais condições de pagar as suas dívidas, com modesta variação mensal e significativa melhora anual. É importante destacar que o grande número de famílias nesta situação é um reflexo do alto desemprego no Estado, que, segundo o IBGE, atinge mais de 710 mil pessoas, no segundo trimestre de 2018, sem contar com os subocupados e os que já desistiram de buscar emprego, que torna a situação ainda mais crítica. Desta forma, a falta de renda devido a não alocação no mercado de trabalho ou a renda insuficiente, no caso de pessoas que trabalham menos horas que o desejado, impacta diretamente no orçamento familiar, mantendo uma restrição na renda ainda elevada para parte da população.
No resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado ainda são as financiadas pelo cartão de crédito, com alta quando comparado a julho, atingindo 93,4%. Lembrando que a Pesquisa de Sondagem do Instituto Fecomércio-PE antecipou que o pagamento via cartão de crédito seria bastante utilizado pela população para a comemoração, sendo o segundo mais apontado. Os demais tipos de dívidas apontadas foram o endividamento com carnês, crédito pessoal, cheque especial, financiamento de carro e o de casa. É importante frisar que os dois tipos de dívidas mais apontadas ainda conseguem refletir uma população que não está conseguindo diminuir o nível de consumo conquistado no período antes da crise, utilizando-se assim do crédito mais caro, como o cartão e o carnê, para se financiar.
Para o mês de setembro, esperamos uma estabilidade no endividamento das famílias, isto porque o mês é uma transição para o clima com maior presença de dias ensolarados no Estado, o que pode levar a um elevação da demanda por serviços e produtos ligados ao clima mais quente da primavera e do verão. Setembro não possui uma data que tenha força para alavancar o consumo das famílias de maneira significativa, mas, este ano, pode gerar um incentivo maior, já que terá um fim de semana prolongado com o feriado da Independência na sexta-feira (7).
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