Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
A inflação da Região Metropolitana do Recife (RMR), medida através do IPCA pelo IBGE, mostrou variação positiva de 1,47% em junho de 2018. O resultado é bem acima dos meses anteriores, mas a alta não é surpresa, os analistas já haviam apontado uma aceleração dos preços no mês, devido à greve dos caminhoneiros nos últimos dias de maio. Porém, é importante ressaltar que esta alta ainda é vista como pontual, sendo assim, espera-se que, nos meses seguintes, as variações nos preços voltem a ficar na média dos cinco primeiros meses do ano, com variações mensais modestas e inferiores aos mesmos períodos dos últimos anos. O resultado é superior ao mês anterior e ao mesmo mês do ano anterior, quando os preços variaram 0,75% e -0,09%, respectivamente. Além disso, o IPCA da RMR foi o terceiro maior entre as regiões pesquisadas, ficando mais uma vez acima do resultado nacional (1,26%).
A paralisação dos caminhoneiros pressionou a inflação da RMR de maneira mais forte em três importantes grupos. O primeiro foi o de “Alimentação e bebidas”, com alta de 1,99%, ante 0,16% em maio. É importante lembrar que o grupo tem peso significativo na formação geral da taxa, em torno de ¼, e teve a formação dos preços influenciada pela redução brusca da oferta de alimentos, afetando a comercialização destes produtos nos centros comerciais. Os itens com as maiores variações neste grupo fazem parte da tradicional refeição das famílias, o que acabou gerando ainda mais impacto negativo na população, que para se alimentar precisou desembolsar um valor bem superior aos dias anteriores à greve – como a batata-inglesa (38,82%), a tomate (23,06%), a melancia (13,79%), o leite (12,17%) e o frango (8,83%).
Os outros dois grupos com as maiores pressões dos preços foram “Habitação” e “Transportes”, que apresentaram alta de 2,22% e 2,65%, respectivamente. O primeiro teve como principal propulsor da significativa variação positiva os valores dos botijões de gás, que tiveram alta de 9,30% em junho de 2018. É importante destacar que este item vem a um certo período de tempo apresentando sucessivas altas, em 12 meses acumula alta de 37,77%. O produto é de necessidade diária, o que causou uma verdadeira corrida aos depósitos, com parte da população receosa por não saber quando o movimento grevista se encerraria e quando iria se normalizar a oferta dos produtos. Outro item que contribuiu para que os preços da Habitação subissem foi a energia elétrica residencial, não sendo influenciada pela greve dos caminhoneiros, e sim por questões climáticas. O item já acumula alta em 12 meses em torno de 15%.
Já os preços em “Transportes”, que vinham sendo constantemente reajustados para cima, devido à política de preço da Petrobrás, que tinha como gatilho a variação cambial e as cotações internacionais, também responderam à falta de abastecimento dos postos de combustíveis, em especial da gasolina, e uma grande procura pelo produto. A gasolina e o etanol mostraram alta mensal de 6,53% e 8,36%, respectivamente, ambos os preços acumulam em 12 meses um crescimento de aproximadamente 30% e 22%. A variação positiva dos três grupos somadas contribuíram com 1,27 pontos percentuais na formação global da taxa de junho, o que corresponde a uma participação de 86%.
É importante destacar que a inflação, nos últimos meses, continuou apresentando um movimento de queda, sendo o mês de junho a primeira quebra clara da tendência de desaceleração, isto porque o grupo de “Alimentação e Bebibas”, que têm um peso alto na composição do índice, ainda mostra variações negativas e acumula em 12 meses -014%, amenizando a alta dos demais grupos. O indicador que acompanha o acumulado dos preços em 12 meses registrou em junho um percentual de 3,61%, porém grupos importantes para o orçamento familiar, como “Habitação” (7,88%), “Transportes” (7,35%), “Saúde e cuidados pessoais” (5,75%) e “Educação” (5,38%), acumulam em um ano valores bem acima da taxa geral e em alguns casos superando o teto da meta nacional de 6,0%.
Os cinco produtos com as maiores variações negativas em junho de 2018 para a RMR foram a Laranja-pera (-11,96%), Alface (-8,64%), Abacaxi (-4,74%), Uva (-4,51%) e a Banana-prata (-3,81%). Na outra ponta, os produtos que tiveram o preço apresentando variação positiva foram Batata-inglesa (38,82%), Tomate (23,06%), Melancia (13,79%), Leite (12,17%) e gás de botijão (9,30%). O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980 e refere-se às famílias com rendimento monetário de 01 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande e Brasília.
Referências: GERÊNCIA DE INVESTIMENTOS/BANCO CENTRAL DO BRASIL. Focus – Relatório de Mercado / Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) – IBGE
Leave a Comment