Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume das vendas do varejo pernambucano mostrou variação nula em abril de 2018 para o indicador mês, o que significa que as vendas apresentaram o mesmo montante que no mês anterior. A taxa de 0,0% é inferior ao crescimento de 1,1% (revisado) de março de 2018 e mesmo não mostrando crescimento é o melhor resultado para os meses de abril desde 2014, quando as vendas, já em processo de desaceleração, mostraram crescimento modesto de 0,3%. O movimento de recuperação do varejo em Pernambuco vem mostrando ritmo mais lento, nos últimos meses, quando comparado com o segundo semestre de 2017. De fato, o cenário econômico vem apresentando maiores dificuldade em sua recuperação, não conseguindo responder às expectativas do mercado, que já esperava, no quarto mês do ano, um aquecimento bem mais forte da economia.
No indicador mensal, mês atual em relação ao mesmo mês do ano anterior, o varejo voltou a cair e desta vez de maneira mais forte, com recuo de -3,9%. É o mais baixo desempenho do ano e mostra uma quebra na recuperação para o período, pois em 2017 o crescimento para o mês de abril foi de 6,0%. O número preocupa, já que apresenta uma deterioração mais acentuada, abrindo margem assim para revisão do desempenho do setor em 2018. A maioria dos segmentos do varejo tiveram queda em seus volumes de vendas, com destaque para a contínua queda de “Livros, jornais, revistas e papelaria”, que vem sofrendo com o movimento de uma população que, atualmente, tende ao consumo de bens de leitura mais digital, além de “Tecidos, vestuário e calçados”, que vem caindo de maneira forte nos quatro primeiros meses do ano, não conseguindo manter o mesmo volume das vendas quando comparado com o primeiro semestre de 2017, onde grande parte dos lojistas ainda faziam muitas promoções para reduzir os níveis altos do estoque neste setor e a economia recebeu uma injeção de recursos devido ao pagamento do saldo das contas do FGTS inativo.
Na outra ponta, os segmentos que apresentaram desempenho positivos foram “Móveis e eletrodomésticos” e “Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação”, com variação positiva de 7,9% e 12,9%, respectivamente. Ambos os setores são influenciados por um maior acesso ao crédito, onde a economia no período se encontra com taxa de juros básico bem inferior ao do ano anterior. Os segmentos também estão sendo influenciados por uma demanda bastante reprimida dos anos de crise, onde a população que se encontrava com um orçamento bem mais restrito devido a alta inflação segurou o nível de consumo e a utilização do crédito para evitar endividamento. Para o mês de maio, espera-se uma queda no indicador mês, devido principalmente à paralisação dos caminhoneiros, onde grande parte das vendas foram prejudicadas, pois os produtos não eram entregues nos estabelecimentos, além de ter criado uma atmosfera de medo na população de não conseguir comprar itens básicos e fazendo com que grande parte das vendas planejadas e por impulso fossem evitadas.
O indicador que mede o desempenho das vendas, nos 12 meses encerrados em abril de 2018, acumula alta de 3,9%, confirmando que o desempenho vem perdendo fôlego nos últimos meses. Vale destacar que, apesar do menor ritmo das vendas, o valor para este tipo de comparativo em abril é o maior para o período de 2014, quando as vendas acumularam alta de 6,7% no período. Outra sinalização importante é que o cenário para o Estado é diferente da tendência nacional, com o varejo brasileiro ainda crescendo até março e mostrando modesta desaceleração em abril. O mercado de trabalho pernambucano ainda se encontra muito deteriorado, com taxa de desemprego bem acima da média nacional e, no primeiro trimestre de 2018, possuía uma população de 740 mil desocupados, este é um fator importante que vem freando a recuperação das vendas do comércio, a população ainda se encontra em busca de vagas no mercado, mesmo com o número de ocupados não mostrando queda, o que significa que, nos últimos meses, parte das famílias ainda precisam elevar sua renda para manter um nível de consumo que considera ideal.
O varejo ampliado, setor que agrega todos os índices do varejo mais as atividades de “Veículos, motocicletas, partes e peças” e “Material de construção”, mostrou tendência diferente do restrito em abril de 2018. Reflexo das vendas no setor de veículos, que atingiu 30,6%, e no setor da construção, com 9,0%, ambos influenciados por uma maior oferta de crédito, além de taxa de juros mais baratas, incentivando a compra de bens mais caros e de investimentos nos imóveis. Em abril de 2018, a maioria dos indicadores continua apresentando taxas positivas, como o comparativo mensal, o acumulado do ano e o acumulado em 12 meses com taxas de 3,9%, 2,6%, e 4,2%, respectivamente.
Referência: Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de Abr/2018.
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