Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE
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Pelo terceiro dia consecutivo, os caminhoneiros protestam contra os aumentos no preço do diesel, na maioria dos Estados do País. O combustível é um dos principais custos operacionais para o setor de transporte e vem sendo afetado pela nova política de preços da Petrobras, que prevê reajuste diário dos valores das refinarias para as distribuidoras, acompanhando taxas de câmbio e cotações do petróleo no mercado internacional. A greve foi convocada pela Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABCAM), que solicita uma redução da carga tributária em cima dos combustíveis e alega que a política de reajustes diários dificulta a previsão dos custos por parte do transportador. Rodovias fechadas e filas de caminhões em importantes trechos das grandes cidades já começam a produzir impactos negativos em diversos setores do País.
A logística é um dos setores impactados por esta paralisação nacional, que, por falta de abastecimento dos combustíveis, é obrigada a reduzir o nível de distribuição, criando um cenário ainda mais crítico para uma atividade que já possui entraves que comprometem a sua realização. Um exemplo são os Correios, que entregam, mensalmente, cerca de meio bilhão de objetos postais, dentre eles 25 milhões de encomendas, em nota informaram um aumento no prazo de transferência dos produtos devido aos efeitos da greve na operação da empresa. Grandes Indústrias também estão sendo obrigadas a reduzir o nível de produção devido ao não recebimento de componentes importantes para a elaboração dos seus produtos. Outro fator de impacto negativo é verificado na entrega dessas mercadorias, como, por exemplo, é verificado nas indústrias de automóveis, que não conseguem escoar novos veículos para as concessionárias, o que reduz o volume de vendas neste segmento e aumenta o tempo para a saída da crise de um dos principais setores econômicos do País.
Para o setor agropecuário, os prejuízos são sentidos nos atrasos das entregas dos grãos, que são enviados para outros Estados e para exportação. A falta de insumo para alimentação de aves, suínos e bovinos também é um problema a ser mencionado, além da falta de alimentos, consumidos diariamente pelas famílias, nos grandes centros comerciais. A falta e/ou redução brusca no fornecimento dos produtos elevará o preço dos itens, o que consequentemente será repassado ao consumidor final, causando uma elevação pontual da inflação.
A população das regiões metropolitanas que utiliza transporte terrestre vem sendo afetada por grandes congestionamentos, que impõe um maior tempo para deslocamento nos grandes centros. Além disso, a falta de abastecimento do diesel nas empresas de ônibus responsáveis pelo transporte público obriga a redução do número de veículos. O Grande Recife Consórcio de Transporte anunciou, na noite do segundo dia de paralisação dos caminhoneiros, uma redução emergencial de 8% no número de viagens realizadas pelos 3 mil ônibus que circulam na capital e na Região Metropolitana. A decisão gera mais transtornos para uma população que, diariamente, enfrenta problemas para se deslocar, refletindo em atrasos e queda na produtividade. Já em relação à população que utiliza o transporte aéreo, os efeitos estão sendo sentidos com o cancelamento de voos nos principais aeroportos do Brasil, também ocasionado por falta de abastecimento.
O Governo Federal, em uma tentativa de encerrar a greve e minimizar a subida nos preços, anunciou a possibilidade de redução nos impostos sobre combustíveis, que, no caso do diesel, a proposta seria zerar a cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE). Diante de uma situação fiscal crítica, a redução será seguida de uma reoneração na folha de pagamentos das empresas, para que assim a queda na arrecadação com combustíveis não deteriore ainda mais as contas do Governo. É importante destacar que é positiva a não alteração da política de preços da Petrobras, utilizando-se da redução dos impostos para amenizar a subida dos preços, porém reonerar a folha de pagamento das empresas em um cenário de desemprego elevado apenas irá transferir o ônus para outros segmentos, reduzindo a possibilidade de novos investimentos do setor produtivo. Desta forma, os demais setores econômicos, impactados negativamente pela paralisação nacional, esperam dos governantes alternativas que amenizem os impactos no setor de transporte para que a greve seja encerrada, eliminando entraves ao crescimento econômico sem transferência de custos entre as empresas.
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