A festividade do Carnaval pernambucano, em 2018, deve ser beneficiada pelo movimento de elevação do consumo da população, iniciado no segundo semestre de 2017. No ano anterior, estimou-se que o Carnaval recebeu em torno de 1,3 milhões de foliões em suas ruas. A taxa de ocupação dos hotéis atingiu os 97%, um bom número para um início de ano ainda muito impactado pela recessão de 2015 e 2016. A expectativa do comércio é positiva para este ano e se projeta um resultado positivo e superior ao de 2017. O otimismo se baseia em um cenário econômico bem menos adverso que no mesmo período do ano anterior, com um mercado de trabalho mostrando melhoras modestas, com uma geração de empregos formais e informais, crédito menos caro e restrito, devido às sucessivas quedas nas taxas de juros, como as do cartão de crédito rotativo, além de uma população mais confiante com um nível de consumo em crescimento.
Analisando o comportamento dos preços no pré-Carnaval, verifica-se que o índice geral da inflação, em 2017, para a RMR atingiu os 3,3%, no acumulado em 12 meses de dezembro, valor bem inferior aos dos anos anteriores. O principal impacto para a queda brusca do IPCA foram os reajustes para baixo dos preços do grupo de “Alimentação e bebidas”, principalmente em itens importantes na alimentação diária da população, como feijão, arroz, cebola e o tomate. Este resultado do IPCA beneficia o volume de vendas do comércio em janeiro e fevereiro no setor de hiper e supermercados, que são os mais impactados pela maior procura dos itens de alimentação e bebidas.
Verifica-se, na tabela abaixo, que alguns itens se destacaram em relação ao comportamento dos preços com reajustes inferiores aos demais, vale destacar que estes produtos possuem relevante importância para grande parte da população que vai às ruas. A cerveja é um dos itens que não mostrou alta considerável, com variação de 0,6%, nos últimos 12 meses, o que praticamente deixará o preço deste item igual ao do ano anterior, não fazendo pressão no orçamento direcionado à comemoração. Os tecidos também mostraram reajuste bem modestos em relação ao Carnaval anterior, com alta de apenas 0,8% em média na RMR, contribuindo também para que preços de fantasias e camisas de blocos não sejam tão pressionados. Por fim, os itens ligados a transportes, como gasolina, devido às sucessivas altas nas bombas de distribuição, apontam que o folião que usar o veículo para se deslocar vai gastar um pouco mais que no ano anterior, porém, o etanol, que pode ser substituído pela gasolina, não acompanhou a alta, podendo ser uma opção mais barata.
É importante lembrar que o varejo pernambucano mostra em 2017 desempenho superior ao brasileiro, com o setor mostrando também uma recuperação das vendas mais veloz que a nacional, o que pode ser explicado, segundo a PNAD Contínua trimestral, por um aumento no rendimento médio da população ocupada e da massa de rendimento total, o que aumenta o poder de compra das famílias e continua gerando impactos positivos para as vendas do comércio.
O que ainda pode afetar as vendas? Uma população ainda endividada devido às compras de final de ano, como a ida a confraternizações, compras de presentes e roupas, além das compras do início de ano, como material escolar, matrícula de escolas e faculdades. Os pagamentos de despesas como o IPVA, para quem possui veículos, e o IPTU, para os donos de imóveis, também podem frear o consumo de algumas famílias que não se prepararam durante o ano anterior para estas obrigações. Vale destacar também que a comemoração dos festejos de Momo, no início de fevereiro, é outro entrave para um maior nível de consumo. A população perde alguns dias para programar melhor os gastos e fazer ajustes no orçamento, fazendo com que a renda disponível voltada às compras para a comemoração seja reduzida e que muitos recorram à utilização do crédito para não perder os dias de festa.
Outro importante fato com poder suficiente para puxar as vendas para baixo continua sendo o aumento da violência no Estado. A alta dos crimes violentos e uma média alta de assaltos por mês, além da crise no Sudeste com relação ao surto de febre amarela e à falta de vacinas para imunizar a população de risco, podem retirar parte da população pernambucana das ruas e reduzir a vinda de turistas, em especial os do Sudeste, fazendo com que a recuperação das vendas continue de maneira mais lenta que nas festas tradicionais anteriores.
Evolução dos Preços dos Bens e Serviços Mais Consumidos no Carnaval | ||||||
Itens | jan/15 | jan/16 | jan/17 | dez/17¹ | ||
Índice geral (IPCA – RMR) | 6,3 | 11,0 | 6,1 | 3,3 | ||
Refeição | 10,3 | 7,7 | 5,0 | 7,2 | ||
Lanche | 8,8 | 15,2 | 9,0 | 3,8 | ||
Café da manhã | 8,9 | 12,0 | 7,8 | 9,6 | ||
Refrigerante e água mineral | 11,8 | 14,8 | 5,7 | 8,4 | ||
Cerveja | 9,0 | 19,2 | -2,5 | 0,6 | ||
Outras bebidas alcoólicas | 2,4 | 15,6 | 5,8 | 4,4 | ||
Tecido | 3,0 | 9,4 | 7,5 | 0,8 | ||
Ônibus urbano | 8,0 | 10,2 | 16,8 | 23,1 | ||
Táxi | 7,6 | 9,5 | 8,0 | 7,8 | ||
Ônibus intermunicipal | -0,3 | 16,0 | 39,3 | 1,7 | ||
Ônibus interestadual | -1,4 | 12,5 | 9,6 | 3,0 | ||
Gasolina | -0,9 | 29,1 | -7,7 | 12,6 | ||
Etanol | 3,7 | 19,9 | 2,4 | 0,6 | ||
Artigos de maquiagem | 3,8 | 15,4 | 1,3 | 3,3 | ||
Costureira | 5,8 | 19,7 | 3,0 | 12,9 | ||
Cigarro | 7,2 | 10,2 | 7,2 | 0,6 | ||
Fonte: IBGE – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. Elaboração Instituto fecomércio-PE. | ||||||
Nota 1: Os dados do IPCA para janeiro de 2018 ainda não havam sido divulgados. | ||||||
Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE
rafael.ramos@fecomercio-pe.com
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