Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (Rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
Conforme esperado, Pernambuco apresentou a sexta alta consecutiva no percentual de endividados, em janeiro de 2019. O movimento de alta dos endividados, iniciado em agosto de 2018, com a comemoração do Dia dos Pais, mostra continuidade no primeiro mês do ano, refletindo a alta concentração de despesas no período e pressionando o orçamento de grande parte das famílias.
A lista de compromissos é extensa e carrega o poder de comprometer o planejamento já no início do período para os que não possuem educação financeira, isto porque janeiro traz para a mesa uma fatura acima da média dos meses anteriores devido ao pagamento do consumo de bens e serviços no final do ano, início do pagamento de impostos, como IPVA, para os que possuem automóveis, e IPTU, para os que possuem imóveis, pagamento de matrículas escolares, faculdades ou cursos, além de pagamentos maiores para serviços que reajustam as tarifas já no primeiro mês do ano.
A taxa da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) pernambucano saiu de 66,8% para 67,7% entre dezembro e janeiro, mas o resultado aponta uma melhora, pois a alta foi inferior aos mesmos períodos dos dois anos anteriores, ambos com crescimento de 1,0%.
Em números, o percentual de 67,7% de janeiro equivale a 345.168 famílias endividadas, acréscimo de 5.158 lares em um mês. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 28,0%, alta em relação a dezembro e queda quando comparado a janeiro de 2018, que registraram percentuais de 26,4% e 30,6%, respectivamente. Estas famílias mostram maior dificuldade no pagamento de suas dívidas, com orçamento mais apertado, o que impossibilita honrar todos os pagamentos do mês.
Atualmente, no Estado, 142.432 famílias estão com alguma conta em atraso, acréscimo mensal de 8.065 e recuo anual de 12.471 lares. A taxa é a maior desde abril de 2018, quando o percentual chegou a 28,6%, e torna-se preocupante, pois revela que algumas famílias que já estavam com orçamento apertado, no final de 2018, continuaram comprando. Já a parcela da população com a situação mais crítica, que é aquela que informa não ter mais condições de pagar as suas dívidas, mostrou percentual de 12,1%, o que corresponde a 61.825 mil famílias inadimplentes, mostrando estabilidade mensal e queda anual significativa, com 30.594 famílias deixando a grave condição de não conseguir honrar com os débitos.
Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado ainda é o cartão de crédito, atingindo 93,2%, seguido do endividamento com carnês e outras dívidas, que representam 20,9% e 10,1%, respectivamente. A maioria das famílias endividadas informam também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda, o que ainda é um ponto a ser melhorado.
É importante destacar que este cenário ainda é um reflexo da dificuldade de geração de renda no Estado, com um mercado de trabalho ainda deteriorado apesar de mostrar modesta melhora em 2018, com um saldo de empregos formais positivo, após três anos de queda. Com uma capacidade de consumo ainda baixa, parte da população, apesar da melhora na educação financeira, ainda recorre ao crédito para manter o padrão de consumo conquistado nos anos pré-crise. Desta forma, é importante que as famílias observem as atuais fontes de receitas e as despesas correntes que possuem, além do levantamento total das dívidas financeiras, para que seja elaborado um planejamento voltado para uma saúde financeira estável.
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